Título: PT, PL e PP sacavam dinheiro das contas de Valério no Rural
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/07/2005, Nacional, p. A4

Os documentos do Banco Rural que chegaram anteontem à CPI dos Correios reforçam os indícios de que o dinheiro sacado das contas das empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza serviram para financiar um tipo de "mensalão" que extrapola a simples prática de caixa 2. Até mesmo carros fortes foram utilizados pelo banco mineiro para fazer a entrega de valores nos escritórios da SMPB em Brasília. Individualmente, os maiores saques registrados até agora são em nome de Simone Reis Vasconcelos, diretora financeira da SMPB (R$ 10 milhões), e de Davi Rodrigues Alves (R$ 5 milhões), que a CPI apenas identificou como funcionário da Secretaria de Planejamento de Minas. Ao todo, 36 pessoas já foram identificadas como recebedoras de dinheiro vivo das agências de publicidade. O levantamento completo só deve ser concluído hoje.

Entre os sacadores, consta o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas (R$ 400 mil), e o chefe de gabinete do deputado José Janene (PP-PR), João Cláudio Carvalho Genu (R$ 1 milhão) - apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos operadores do mensalão. Os documentos comprovam que o deputado Josias Gomes (PT-BA) e Márcia Regina Cunha, mulher do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), além de outros assessores do PT, também sacaram valores.

Pelas estimativas da CPI, os saques em dinheiro podem chegar a R$ 60 milhões, bem mais do que os R$ 21 milhões inicialmente detectados pelo Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), que apenas filtra as operações superiores a R$ 100 mil. A maioria das pessoas identificadas pelo Rural sacou o dinheiro na agência de Brasília, por meio de um rito comum: a SMPB ou a DNA emitiam cheques administrativos em nome delas próprias e enviavam por meio de fax autorização para que terceiros retirassem a cifra.

Em duas oportunidades, em 6 e 7 de outubro de 2003, a direção do banco em Belo Horizonte solicitou que o dinheiro - R$ 800 mil e R$ 650 mil, respectivamente - fossem entregues por carro forte diretamente no escritório de representação das agências em Brasília. A diretora financeira seria a receptora. Em outras três ocasiões, Simone também foi intermediária de repasses de R$ 150 mil para o deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ).

A prova de que as pessoas sacaram o dinheiro é dada não só pela autorização da SMPB e da DNA, como também pela cópia da carteira de identidade das mesmas, anexada aos demais documentos do Rural. Um dos beneficiários do dinheiro, o deputado petista Josias Gomes (BA), chegou a apresentar sua identidade parlamentar ao sacar R$ 50 mil, em duas oportunidades.

A mulher de João Paulo, de acordo com o levantamento, sacou R$ 50 mil em 4 de setembro de 2003. Genu aparecia até ontem à noite com R$ 1 milhão retirados das contas da SMPB. O ex-tesoureiro do PL consta da lista com pelo menos R$ 400 mil de saques na boca do caixa.

ASSESSORES

Do PT, além do deputado baiano e da mulher de João Paulo, a CPI já identificou saques feitos por Anita Leocádia, assessora do líder do PT na Câmara, Paulo Rocha, e por dois dirigentes petistas do Distrito Federal - Wilmar Lacerda e Raimundo Ferreira da Silva, este último lotado até ontem no gabinete do deputado Paulo Delgado (MG).

Lacerda confirmou que sacou R$ 50 mil, "por determinação" do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, para pagar dívidas do PT do DF. Outro nome que aparece na lista é o de Roberto Costa Pinho, ex-assessor do Ministério da Cultura, que sacou R$ 1, 15 milhão em quatro vezes.