Título: Pelo Orkut, ecstasy, skank, LSD...
Autor: Carolina Iskandarian
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Metrópole, p. C3

Depois de dois meses de investigações, a polícia prendeu ontem dez jovens de classe média acusados de vender ecstasy, maconha, skank e até LSD por telefone, em festas, boates e lanchonetes. Por meio da internet, principalmente do site de relacionamentos Orkut, o grupo indicava a qualidade do entorpecente e combinava a venda. Entre os presos está Amon de Magalhães de Velasco Lemos, de 19 anos, irmão da modelo Lívia Lemos, ex-namorada do jogador Ronaldo. Os jovens serão indiciados por tráfico e associação para o tráfico. As penas chegam a mais de 20 anos.

A operação, batizada de Oceânica, foi desencadeada pelo Serviço de Repressão a Entorpecentes (SRE) de Niterói, que chegou ao grupo realizando escutas autorizadas pela Justiça. A partir daí, descobriu-se que os jovens atuavam na Tijuca (zona norte do Rio), em Niterói, em Búzios, na Região dos Lagos, e em Belo Horizonte (MG). Dos 14 mandados de prisão, 10 foram cumpridos.

"Eles vendiam basicamente ecstasy e maconha, mas também tinham outras drogas. Combinavam a venda de forma diversificada, marcando em festas e lanchonetes", disse o delegado Luiz Marcelo Xavier, que coordenou a operação. Foram apreendidos 3 quilos de maconha, uma pistola calibre 380 e pequena quantidade de skank.

Além de Lemos, neto de um delegado de polícia, foram presos Bruno Marini, de 25, Tiago de Vasconcelos Tauil, de 23, Giovani Arnaud Ni Castro, de 24, Gerson Castanheira Júnior, de 27, Enrique Dario Shiff, de 27, Aniello Caputo Filho, de 29, Guilherme Caldeira Dal Bello, de 25, Rodrigo Alvarenga dos Santos, de 25, e André Kohler Archiles, de 26 anos.

Segundo a polícia, a maioria dos detidos é formada por universitários. Marini, bacharel de Direito, foi indiciado também por formação de quadrilha e estelionato. Tauil, promotor de eventos, era o responsável por receber os pedidos nas festas. A pistola e o skank estavam com Ni Castro, e a maconha, com Castanheira.

Uma das escutas - são 150 horas de gravações - flagrou Lemos negociando ecstasy com Léo, um fornecedor. O vendedor pedia R$ 400,00 por 20 comprimidos. "Mas aí eu não ganho nada", disse Lemos, que revenderia a droga. Os dois fecharam a transação por R$ 370,00.

Para o chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, a prisão do grupo evidencia uma mudança no perfil do tráfico. "Não houve prisão na favela. São pessoas de classe média, com instrução." Lins informou que não havia hierarquia no esquema. "Eles eram viciados, mas isso não os isenta do crime. Repassavam o entorpecente e ficavam com parte."

Além da investigação na SRE, Lins determinou que fosse aberto inquérito na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática para apurar a apologia ao uso de entorpecentes. "Alguns sites, principalmente o Orkut, têm sido usados para difundir drogas. Os responsáveis pelos sites no Brasil têm mantido uma conduta negligente e serão chamados para depor."

Na página de Lemos no Orkut, o jovem aparece em fotos com a irmã famosa, o atacante Ronaldo e a atriz Juliana Paes. Entre as comunidades a que pertence, pelo menos uma faz alusão às drogas. Ao descrever suas preferências, Amon cita o livro Abusado - O Dono do Morro Dona Marta, do jornalista Caco Barcellos, biografia do traficante Marcinho VP. Lívia elogia o irmão por estar "mais centrado". "Espero que continue assim, você sabe que é o que mais desejo, quero muito o seu bem!!!!"