Título: China cede e valoriza sua moeda
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

Cedendo às pressões internacionais, a China valorizou ontem a sua moeda, o yuan. Depois de uma década de câmbio fixo, cotado a 8,28 yuans por dólar, os chineses valorizaram a moeda em 2,1% e adotaram um regime de câmbio mais flexível, que flutuará em relação a uma cesta de moedas. O Banco Popular da China, banco central chinês, anunciou que a moeda passa a flutuar todos os dias dentro de uma banda de 0,3%, para cima e para baixo. Segundo o BC chinês, a moeda será mantida em "relativa estabilidade" e flutuará de acordo com uma cesta de moedas, não especificadas. O BC chinês batizou o novo regime de "flutuação administrada de câmbio".

Para a maioria dos analistas, a valorização do yuan, que vinha sendo discutida há meses, foi apenas modesta. Mas o fato de a China ter decidido alterar seu regime de câmbio é, por si só, muito importante.

A valorização foi uma grande vitória para o governo do presidente George W. Bush, que vinha pressionando as autoridades chinesas. A indústria americana e de outros países acusava a China de fazer concorrência desleal por causa de seu câmbio fixo subvalorizado.

Com a valorização da moeda, as exportações chinesas vão ficar mais caras e ameaçam menos as indústrias locais. Exportadores de outros países, em contrapartida, tornam-se mais competitivos.

O secretário do Tesouro americano, John Snow, comemorou a decisão. "Esse é o primeiro passo em direção a uma maior flexibilidade do câmbio." Políticos americanos também aprovaram a medida, afirmando tratar-se de um bom começo. Mas todos deixam claro que não consideram a valorização de 2,1% suficiente. Muitos esperavam uma apreciação de 10% a 15%. Para analistas, a medida não vai reduzir o déficit comercial dos EUA com a China, que atingiu o recorde de US$ 162 bilhões no ano passado.

Mesmo assim, a decisão foi encarada como um gesto de boa vontade do governo chinês, antecipando a visita do presidente Hu Jintao a Washington, em setembro. "Apesar de ser uma valorização mínima, a medida ajuda a reduzir a hostilidade em relação aos chineses nos EUA", disse ao Estado Gary Hufbauer, economista do Instituto de Economia Internacional (IIE).

Com a medida, o governo chinês quer conter as reações protecionistas que vêm surgindo em vários países, além de equilibrar a economia da China que está em rota de superaquecimento, puxada por exportações muito fortes. A valorização da moeda pode ajudar a desacelerar a atividade, sem causar uma brecada abrupta. Muitos analistas acreditam que o movimento do BC chinês é apenas o início de uma série de valorizações do yuan.

IENE

Logo após o anúncio, o iene começou a subir e encerrou o dia em alta. O iene subiu porque o mercado espera que os países asiáticos deixem suas moedas se valorizarem, a reboque do yuan. A Malásia também anunciou que vai abandonar o câmbio fixo atrelado ao dólar.