Título: Governo iraquiano quer Brasil na produção de petróleo e gás
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2005, Economia & Negócios, p. B9

A cadeia industrial brasileira ligada à prospecção, produção e refino de petróleo e gás terá uma importante oportunidade de negócios neste semestre. O Ministério do Petróleo do governo provisório do Iraque - segunda nação em reservas do mundo - abrirá concorrência internacional para autorizar a exploração de 11 novos campos petrolíferos nas cidades de Basra, Ilmara e Nasria. As reservas estimadas nestes campos são de 400 bilhões de barris. O plano iraquiano é elevar em 3 anos a produção de óleo bruto de 2,2 milhões de barris para 3 milhões de barris por dia. A Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Iraque - criada há dois anos com o objetivo de reativar a corrente comercial entre as duas nações - será a interface entre as informações do governo iraquiano e o setor privado brasileiro. Segundo Jalal Chaya, presidente da Câmara no Brasil, o governo iraquiano solicitou à entidade apoio que atraia empresas brasileiras para a concorrência.

Em visita ao Brasil no mês de abril, autoridades do Ministério do Petróleo consideraram robusta a estrutura brasileira de exploração e produção de petróleo. Interessou, revela o adido comercial, a tecnologia de exploração horizontal no mar. O Iraque quer extrair óleo em campos sob cidades do país. O encontro no Brasil rendeu inclusive um protocolo de cooperação técnica assinado com a Petrobrás. Segundo Chaya, o processo de licitação aberto agora deve correr durante todo o segundo semestre. "A previsão é que todos os contratos sejam assinados no início do ano que vem, quando o governo eleito do Iraque assumir o poder", diz.

Além da ampliação da produção de petróleo e gás, haverá demanda pela recuperação e montagem de novas refinarias de petróleo. Hoje, a demanda interna de 700 mil barris por dia é em parte abastecida com a importações. "Além do aumento da produção de petróleo para venda internacional, o país precisará ampliar a oferta de produto refinado", diz Chaya, iraquiano há 26 anos no Brasil.

CORRENTE COMERCIAL

A corrente comercial é francamente favorável ao Iraque devido às compras de petróleo pelo Brasil. Em 1985, auge da relação entre os dois países, as trocas comerciais chegaram a US$ 2,429 bilhões, US$ 630,07 milhões de exportações brasileiras e US$ 1,799 bilhão de importações do Brasil. Em 2004, as trocas foram menores: US$ 534,6 milhões, ainda favorável ao Iraque. Desse total, apenas US$ 61,59 milhões foram exportados pelo Brasil, US$ 473,070 milhões exportados pelos iraquianos.

De acordo com Chaya, a abertura de grandes contratos no campo de petróleo e gás pode ser um marco não apenas em razão do aumento do intercâmbio comercial, mas também para gerar superávit favorável ao Brasil. "A diferença no tempo entre Brasil e Iraque é de 30 anos. O embargo comercial e a guerra afetaram muito a economia iraquiana. O Brasil tem milhares de produtos que podem entrar no Iraque", diz Chaya.

Parte do esforço em retornar àquele país começa em setembro, quando a Câmara e a Agência de Promoção de Exportações (Apex), órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior , realizam a primeira feira brasileira na região. Acontecerá na Jordânia, nação vizinha e não conflagrada.

As ofertas de negócios não se resumem à área petrolífera. O governo provisório do Iraque acaba de destinar US$ 1,9 bilhão para bancar projetos de reestruturação do país. São 127 projetos que vão da área agrícola à reorganização da gestão pública. A Câmara também repassa neste momento informações às empresas brasileiros sobre como se habilitar para ser fornecedor de bens ou serviços. O governo iraquiano tem US$ 24 bilhões no orçamento de 2005. Até 2007, são mais US$ 71 bilhões. O lastro para bancar compra de bens e serviços está sob os pés do Iraque. Petróleo.