Título: Advogado diz que sócio o torturou
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Internacional, p. A16

Costa teria grampeado Bertholdo; ambos estão nas denúncias dos juízes

CURITIBA - As investigações sobre suposta venda de sentenças em Curitiba podem estar entrelaçadas com um episódio rumoroso, ainda não esclarecido, em escritório de advocacia da cidade. O advogado Sérgio da Costa Filho acusou em janeiro o seu sócio, Roberto Bertholdo, de tê-lo "torturado" por causa de suposto desvio de R$ 900 mil e de um "grampo" no escritório. Ambos são citados nos depoimentos como advogados que o desembargador Dirceu de Almeida Soares tentou favorecer. O episódio ocorreu depois da prisão, em novembro, de um cliente do escritório, o empresário Antônio Celso Garcia, um ex-deputado estadual, acusado de "gestão temerária" do Consórcio Garibaldi, falido em 98. Tony Garcia, como é conhecido, foi candidato a senador pelo PP, tendo Bertholdo como primeiro suplente. O telefone de Garcia foi grampeado pela polícia. A gravação de conversas supostamente comprometedoras entre Garcia e Bertholdo teria levado Costa a querer desfazer a sociedade. Bertholdo e Costa acusam um ao outro de ter instalado aparelhos de escuta e câmeras ocultas no escritório.

A disputa resultou no espancamento de Costa. Em depoimento à polícia, ele acusou o sócio de tê-lo algemado, aplicado choques, ameaçado de enforcar e espancado, durante 14 horas, com a ajuda do segurança, do motorista e de dois homens que se diziam policiais civis. Costa gravou um vídeo de si mesmo, dois dias depois da surra, e mantém-se escondido, com medo.

Bertholdo, que tem escritório em Brasília, onde atende políticos como os líderes do PP na Câmara, José Janene, e do PMDB, José Borba, teve a prisão decretada em março por Sérgio Moro, um dos juízes que denunciam o tráfico de influência do desembargador, num caso em que o advogado atuava. "Ele é um fascista que se considera o chicote de Deus", diz Bertholdo sobre Moro. O advogado, que admite ter batido no sócio, porque ele lhe roubou dinheiro e grampeou o escritório, diz que ninguém foi prendê-lo em Brasília. Em junho, obteve habeas-corpus. Pouco antes da ordem de prisão, Bertholdo deixou o Conselho da Itaipu, para o qual fora indicado pelo PMDB.

A escuta telefônica também levou à prisão, por ordem do juiz Moro, de Michel Saliba, ex-presidente da OAB no Paraná, sócio de Bertholdo em pelo menos um caso. Costa acusa Saliba de ter estado no escritório durante as "torturas" e nada ter feito. Saliba é citado pelo juiz Ricardo Rachid de Oliveira como advogado num processo em que o desembargador Soares intercedeu. Mas, segundo o juiz, não foi Saliba quem conversou com ele, a pedido de Soares. Bertholdo garantiu que nunca comprou sentenças. O Estado não conseguiu falar com Saliba nem com os outros advogados.