Título: 'Não há como fazer uma CPI chapa-branca', diz Delcídio
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA- Além da exaustiva rotina de depoimentos e análises de documentos, o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), de 50 anos, está empenhado na tarefa de apagar a imagem de que as investigações não chegarão a lugar nenhum, temor difundido pela oposição. "Não há como fazer uma CPI chapa-branca, abafar os fatos. A imprensa está acompanhando tudo muito de perto", diz o senador. Nesse esforço, Delcídio garante que foi técnica e não política a decisão de não pôr em votação os requerimentos de convocação do ex-ministro José Dirceu e do secretário de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken.

"Nós fizemos um trabalho com base nas investigações e nas informações ligadas aos Correios. Dos 160 requerimentos para convocar pessoas, nós já aprovamos 110 em um acordo dos líderes do governo e da oposição. Não há nenhuma ligação em tudo o que a gente viu, pelo menos até agora, com o ex-ministro José Dirceu e com o ministro Gushiken", justifica. Dirceu foi acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de comandar a distribuição de propina a deputados aliados do governo. Gushiken foi citado pelo ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho, flagrado em uma fita recebendo propina de R$ 3 mil. Sobre a possibilidade de serem convocados, Delcídio afirma: "O tempo dirá."

Para o presidente da CPI, os oito depoimentos marcados para esta semana vão apontar o grau de envolvimento de integrantes da administração federal petista no esquema de corrupção nos Correios. "Teremos um quadro mais claro de qual é a distância desse problema dos Correios com o governo", diz. Para Delcídio, até agora não há comprometimento de autoridades de destaque do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Entre os depoentes desta semana, está Roberto Jefferson. Pela primeira vez, Jefferson vai depor como acusado e não como o acusador da existência de um esquema de pagamento de propina para deputados aliados do governo. O mensalão, na opinião de Delcídio, deve ser investigado por outra CPI. Já a CPI dos Bingos, que investigará o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, deve ficar para depois, sugere o senador. "É preciso haver bom senso", afirma.

O engenheiro eletricista que foi ministro de Minas e Energia no governo de Itamar Franco e diretor de Gás e Energia da Petrobrás no governo de Fernando Henrique Cardoso tem também um interesse particular ao procurar evitar o fracasso da CPI. O senador quer ser candidato ao governo de Mato Grosso do Sul, em 2006. Ele reconhece que uma investigação malsucedida atrapalharia seus planos políticos.

"Inegavelmente, claro. Mas acho que a CPI vai trazer os resultados que a opinião pública espera. Não só no que se refere à elucidação das irregularidades e à punição, mas também trazer instrumentos que podem propiciar uma melhoria na gestão das empresas estatais", disse.