Título: BB também abasteceu políticos
Autor: Diego Escosteguy Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2005, Nacional, p. A5

Empresa 2S, de Marcos Valério, transferia eletronicamente entre R$ 50 mil e R$ 120 mil para contas pessoais de assessores

A CPI dos Correios descobriu que contas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza no Banco do Brasil também foram usadas para passar recursos a pessoas ligadas a políticos. Em levantamento preliminar, os técnicos da CPI identificaram que o dinheiro era transferido eletronicamente, em operações que variavam de R$ 50 mil a R$ 120 mil. Saía da conta da 2S Participações Ltda., empresa de Valério, e seguia para as contas de assessores de políticos. Até agora, só se sabia de saques para políticos nas contas dele no Banco Rural. Os técnicos da CPI listaram oito transferências, por nomes e valores. Um dos nomes da lista é o de Sandra Rocha, ex-controladora-geral de Contagem (MG). O valor do depósito da 2S foi de R$ 55 mil. Sandra trabalhou na gestão do prefeito Ademir Lucas, do PSDB (2001 a 2004), e é investigada pelo Ministério Público de Minas por suspeita de favorecimento. Os promotores apuram se Sandra recebeu benefícios de Valério, depois que ele fechou contrato de publicidade de R$ 1,7 milhão, entre sua agência SMPB e a prefeitura.

Embora admita que conhece Valério e teve vários encontros de trabalho com ele, Sandra negou ontem ter recebido dinheiro da 2S ou de qualquer agência do publicitário. Ela confirmou que o número da sua carteira de identidade coincide com o que está registrado na lista da CPI.

"Tenho a mesma conta há 15 anos e nunca recebi essa quantia. Nunca ouvi falar da 2S Participações até que começaram as notícias nos jornais", disse. Sandra ainda trabalha com Lucas, hoje assessor político do governador Aécio Neves (PSDB).

Também está na lista da CPI o secretário de Finanças e Planejamento do PT de Minas, Carlos Magno Ribeiro Costa. A transferência é de R$ 90 mil. No PT mineiro, o secretário de Comunicação, Renato Siqueira, disse que Magno está de férias. Ele também não foi localizado no celular. Magno coordenou o Grupo de Trabalho Eleitoral do PT mineiro nas eleições passadas.

Incluído na lista, o advogado José Roberto Moreira de Melo confirmou ontem ter recebido R$ 50 mil em sua conta particular, depositados pela 2S. "Prestei consultoria tributária e recebi esta única transferência direta para minha conta pessoal." Ele negou qualquer vínculo com políticos. Melo é sócio de Valério e do advogado Rogério Tolentino no escritório de advocacia Tolentino e Melo.

O escritório, disse, presta serviço "para todo o grupo de Valério". Segundo Melo, "a 2S é uma empresa virtual feita exclusivamente para abrigar os lucros de Valério e da mulher dele, Renilda".