Título: FHC: Investigar tudo, sem perder o foco
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Nacional, p. A8

Em resposta às acusações de envolvimento do empresário Marcos Valério com o senador Eduardo Azeredo (PSDB) em 1998 - então governador de Minas Gerais - em operações que indicam o mesmo tipo de triangulação realizada em 2003 em benefício do PT, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu a apuração de qualquer indício de corrupção. "Temos de investigar tudo, mas sem perder o foco de que a crise é hoje", disse. Para ele, cabe "evitar a multiplicidade de insinuações e acusações, porque isso atrapalha a apuração dos fatos verdadeiros". "Não adianta ficar especulando. Isso tudo não leva ao que o povo quer saber: o que aconteceu e quem é o responsável (pela atual crise política)." Ele participou ontem em São Paulo do seminário Eqüidade no Período Pós-Kyoto, sobre o meio ambiente, e afirmou que é desejo do PSDB e bom para o País sair da crise o quanto antes. "Mas não tapando o sol com a peneira. Não tem peneira. Taí o sol brilhando, todo mundo está vendo o que aconteceu", prosseguiu, afirmando não tolerar deslizes, mesmo se cometidos por aliados. "Apure-se. Não sou solidário com eventuais falcatruas que tenham havido no meu governo. Posso não ter sabido. Mas não sou solidário. Não tenho nada com isso. Sou contra. Então, tem de apurar."

FHC defendeu posição firme do PSDB diante da atual crise. "Aí tem um foco de incêndio. Nós não vamos colocar lenha na fogueira, mas tampouco água. Nem lenha, nem água", repetiu algumas vezes. "Devemos apurar tudo, mas dando os pesos relativos a cada fato. O grave de hoje é haver algo sistemático. Uma organização com apoio político de um partido. Isso é que é o fato de hoje."

Comparou a atual crise a um campo minado, não instalado pela oposição, com minas que explodem todos os dias nos jornais. "Está bem, estourou. Quem é o responsável, quem colocou essa mina, essa bomba lá? Não fomos nós. É isso", disse, para concluir que hoje tem responsabilidade, como cidadão, "de ajudar a que haja um ambiente de decência no País".

Sobre os supostos esquemas de caixa 2 disseminados por vários partidos, FHC mostrou indignação, dizendo não aceitar "essa tese generalizada horrível". "Quem aceitar que existe caixa 2 e isso é normal, acabou tudo. Não, não. E onde houver, vai ver por que houve e tem de punir." Chamou de confusão de "setores do PT" a tese de golpe. "Roubo é roubo, não é de esquerda nem de direita, e tem de ser apurado." E ironizou um suposto golpe das elites. "Torcem pelo presidente Lula de uma maneira como poucas vezes vi na vida."

O ex-presidente criticou a generalização da classe política. "Tem de separar o joio do trigo o tempo todo. Eu não aceito essa tese de que tem bandalheira em toda parte e todo mundo é bandido. O país que aceita isso como coisa normal está perdido. E o Brasil não é isso."