Título: Agência de Valério admite doação 'não oficial' para tucanos em 1998
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Nacional, p. A8

A SMPB Comunicação admitiu ontem que fez doações "não oficiais" para partidos e políticos em campanhas a partir da entrada do empresário Marcos Valério como sócio da agência, em 1996. A empresa alegou que não poderia informar o montante e quem foi beneficiado pois não possui registros das operações. De acordo com o jornal O Globo, Valério realizou, em 1998, operação semelhante à feita com o PT em 2003 para apoiar o tucano Eduardo Azeredo, que disputava a reeleição ao governo de Minas. Azeredo é senador e presidente do PSDB.

A agência de publicidade chegou a admitir que as doações "não contabilizadas" foram feitas para a campanha de Azeredo em 1998, mas depois procurou o Estado para dizer que não confirmava as contribuições. Alegou que houve um "mal-entendido".

A DNA Propaganda, outra agência que tem Marcos Valério como sócio, contraiu empréstimo de R$ 9 milhões no Banco Rural, em 12 de agosto de 1998, com vencimento para 19 de outubro daquele ano. A agência ofereceu como garantia contrato com o governo mineiro, por meio da Secretaria de Estado da Casa Civil e Comunicação Social (Secom). A CPI dos Correios identificou empréstimos tomados pelas empresas de Valério nos bancos BMG e Rural oferecendo como garantias contratos publicitários com estatais.

O Globo informou que no mesmo período a SMPB repassou dinheiro para pelo menos 70 políticos ou pessoas ligadas a políticos mineiros da coligação que apoiava Azeredo. Os repasses ultrapassariam R$ 1,6 milhão.

Além do PSDB, a coligação era formada por PFL, PTB, PPB, PSN e PSD. Azeredo foi derrotado por Itamar Franco. Ele tinha como candidato a vice o atual vice-governador de Minas, Clésio Andrade, que deixou a sociedade na SMPB e na DNA para disputar a campanha.

Marcos Valério ingressou como sócio das empresas por meio de Clésio, que injetou recursos. Segundo a SMPB, as doações foram conduzidas por Valério e ele deve dar explicações.

O empréstimo não foi pago e em dezembro de 2000 o Banco Rural entrou com ação de execução. A instituição requeria o pagamento de um saldo devedor atualizado de R$ 9,084 milhões, mais encargos. Além de Marcos Valério, foram citados seus sócios Cristiano de Mello Paz e Ramon Hollerbach Cardoso. A execução solicitava a penhora de bens imóveis.

Em março de 2001, o Rural pediu à Justiça a suspensão do processo por seis meses, "no intuito de não prejudicar a negociação em andamento". Cerca de dois anos depois, a instituição aceitou receber R$ 2 milhões para a quitação do débito, renunciando, em abril de 2003, a um total de R$ 11,9 milhões, já que o montante chegava a R$ 13,9 milhões.

NOTA

Azeredo distribuiu ontem uma nota onde afirma que a revelação da operação é uma tentativa de tirar a atenção das denúncias contra o PT e o governo federal. Ele disse que a situação é "completamente diferente do que acontece agora". E explicou que em 1998 houve operação de empréstimo entre a agência e banco: "Mas não tem meu aval, nem aval do meu partido. É outra situação".