Título: Novas tecnologias darão sobrevida à era do petróleo
Autor: Daniel Yergin
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2005, Economia & Negócios, p. B8

Não estamos ficando sem petróleo. Ainda não. A escassez certamente está no ar - e nos preços. Neste momento o mercado está apertado, mais do que na véspera da crise de 1973. Neste mercado de alto risco, as "surpresas", que vão desde a instabilidade política até os furacões, podem elevar os preços ainda mais. Além disso, o espectro de uma escassez de energia não se limita ao petróleo. O fornecimento de gás não está acompanhando a crescente demanda. Mesmo o fornecimento de carvão, que gera metade da eletricidade consumida nos Estados Unidos, está restrito.

Mas é o petróleo que atrai as atenções. Com os preços futuros em torno de US$ 60 o barril, puxados pela expansão da demanda, aumenta o temor de uma escassez iminente - o temor de que o mundo começará a ficar sem petróleo dentro de 5 ou 10 anos. Argumenta-se que tal escassez será amplificada pelo substancial e crescente consumo de dois gigantes, a China e a Índia.

Mas esse receio não deriva dos fundamentos da oferta.

Nossa criteriosa análise da capacidade produtiva, liderada por meus colegas Peter Jackson e Robert Esser, contradiz esse ponto de vista e leva a uma surpreendente conclusão: haverá uma grande ampliação da oferta de petróleo nos próximos anos. Entre 2004 e 2010, a capacidade de produção de petróleo (não a produção real) poderá crescer em 16 milhões de barris por dia, passando de 85 milhões para 101 milhões de barris por dia, alta de 20%. Ela aliviaria as atuais pressões sobre a oferta e a demanda.

De onde virá esse aumento?

Dos países da Opep e dos países de fora dela, em proporções iguais. O maior crescimento entre os países que não são da Opep virá do Canadá, Casaquistão, Brasil, Azerbaijão, Angola e Rússia. Entre os da Opep, a expansão virá da Arábia Saudita, Nigéria, Argélia e Líbia. Nossa estimativa para a ampliação no Iraque é bem modesta, só 1 milhão de barris diários, por causa da incerteza predominante nesse país. Na previsão, os EUA ficam quase no mesmo nível, com a ampliação da produção nas águas profundas do Golfo do México compensando o declínio em outros pontos.

Embora algumas questões possam ser levantadas a respeito de países, esta previsão não é especulativa. Baseia-se no que já foi revelado. A indústria petrolífera é regida por projetos de longo prazo. A maior parte da nova capacidade que estará disponível entre este ano e 2010 está em desenvolvimento. Muitos projetos que abrangem essa nova disponibilidade foram aprovados entre 2001 e 2003.

Toda previsão envolve riscos. Neste caso, os riscos não estão "abaixo do solo", como a geologia ou a falta de recursos. Ao contrário, estão "acima do solo" - instabilidade política, conflitos, terrorismo ou demora nas decisões. Mesmo assim, ainda haveria um grande aumento na produção.

Esta não é a primeira vez que o mundo está "sem petróleo". É a quinta. Ciclos de escassez e excesso de oferta caracterizam a história dessa indústria. Um temor semelhante de escassez, após a Primeira Guerra Mundial, foi um dos motivos que levaram à união das três províncias mais a leste do extinto Império Otomano, criando o Iraque. Mais recentemente, a "escassez permanente" da década de 70 deu lugar ao excesso de oferta e ao colapso dos preços na década de 80.

Uma coisa comum aos períodos de escassez é subestimar o impacto da tecnologia. E, mais uma vez, a tecnologia é a chave. As reservas comprovadas não são necessariamente um bom guia para o futuro.

À medida que a tecnologia se aprimorar, a produção de muitas regiões será bem maior do que a prevista. A participação do "petróleo não-convencional" (óleo arenoso do Canadá, pesquisas em águas muito profundas, derivados liquefeitos do gás natural) passará dos 10% da capacidade total, em 1990, para 30% em 2010.

O não-convencional se tornará convencional. Nos próximos anos, novos equipamentos estarão transformando inacessíveis reservas de gás natural num combustível de qualidade, semelhante ao diesel.

A oferta maior de energia não pode nos levar a subestimar o desafio de fornecer energia a um mundo com a economia em expansão. Sem a maior eficiência esperada, parece que o mundo poderia estar usando 50% mais petróleo dentro de 25 anos do que hoje.

Este é um enorme desafio. Mas, nos próximos anos, a maior capacidade produtiva esvaziará o temos de uma escassez iminente. E isso dará um alívio para que as empresas possam levantar capitais e criar novas tecnologias para alimentar uma economia em expansão, garantir o fornecimento de energia e atender as necessidades de uma classe média que está se tornando global.