Título: Governo agiu em benefício do banco BMG
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Nacional, p. A4

Dirceu confirmou a ação do Banco Central em favor de instituições de pequeno porte

O ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP) acabou confirmando no Conselho de Ética da Câmara que o governo agiu em benefício do Banco BMG. Contou que, com a quebra do Banco Santos em novembro, o Banco Central (BC) adotou várias medidas para evitar uma crise nas instituições de pequeno porte, garantindo-lhes folga de caixa. Entre elas, o BC "negociou com bancos maiores para comprarem a carteira de instituições menores", numa espécie de assistência financeira disfarçada.

Na época, o BC também anunciou a liberação de parte dos recursos que são obrigatoriamente recolhidos pelas instituições, os chamados depósitos compulsórios, para ajudar os pequenos bancos. Mas o governo e a Caixa Econômica Federal nunca tinham admitido a interferência direta da autoridade monetária para agilizar a negociação com o BMG.

Só a Caixa realizou três operações com o BMG entre dezembro e abril passado, somando R$ 2,9 bilhões. Outros bancos privados também adquiriram créditos do BMG, como o Itaú.

Em dezembro, no auge da crise com o Banco Santos, a Caixa fez duas aquisições do BMG, uma de R$ 300 milhões e outra de R$ 200 milhões. Em abril, comprometeu-se a adquirir até R$ 100 milhões por mês desses créditos do BMG durante os próximos 24 meses, somando no final R$ 2,4 bilhões. Segundo informações da Caixa, em três meses o total adquirido já seria bem maior do que os R$ 300 milhões programados, chegando a R$ 800 milhões. O BC não quis se manifestar sobre as informações dadas por Dirceu.

A Caixa sempre alegou que a negociação com o BMG foi feita avaliando uma oportunidade de mercado e ela foi rentável. No entanto, para os deputados do conselho a compra não se justifica. Argumentam que a Caixa tem uma rede de 2,1 mil agências contra 10 do BMG, o que lhe garante muito mais agilidade para oferecer empréstimos em consignação para aposentados e pensionistas. Além disso, o público-alvo do programa de empréstimo em consignação é exatamente a clientela da Caixa que, nesse segmento, concorre diretamente com o BMG.

Por isso, as declarações de Dirceu só vieram a confirmar as suspeitas dos deputados. A explicação dele foi "um escorregão" durante resposta a um questionamento sobre possíveis favorecimentos ao BMG na área de empréstimo em consignação. É que os parlamentares da CPI dos Correios questionam o fato de o banco mineiro, apesar de ser considerado de porte pequeno, liderar as operações com os aposentados e ter sido o primeiro a assinar convênio com a Previdência.

Pelos dados da CPI, o BMG teve mais sucesso do que o Banco do Brasil e a própria Caixa. Do total de R$ 6,8 bilhões de empréstimos em consignação concedidos para aposentados e pensionistas do INSS, 37,8% são operações do BMG.