Título: Simone: Borba pegou dinheiro e não deu recibo
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Nacional, p. A8

José Borba, deputado (PMDB-PR), suposto beneficiário de R$ 2,1 milhões do esquema do mensalão, recusou-se a assinar comprovante de saque no Banco Rural. A teimosia de Borba obrigou Simone Reis Lobo Vasconcelos a se deslocar à agência do banco em Brasília. Ela assinou o documento, e Borba levou o dinheiro em espécie. Faz parte da confissão de Simone à Polícia Federal a história de Borba, que se afastou do posto de líder peemedebista quando o mensalão tornou-se público. O depoimento de Simone é apontado pela PF como importante prova do esquema de corrupção no Congresso e da rotina dos pagamentos que beneficiaram quadros do PT.

Para a PF, ficou claro que Borba não quis colocar sua assinatura no papel para não deixar rastro que mais tarde pudesse ser usado como prova da coleta. Borba não quis falar sobre a acusação. Simone não explicou, no entanto, o sumiço do documento que ela endossou para que o dinheiro de Borba fosse liberado. "Não sei qual o destino dado pela agência Brasília do Rural ao documento que autorizava o pagamento."

Mas não foi apenas Borba que ela apontou. A lista que entregou à PF, na noite de segunda-feira, aponta outros parlamentares e assessores políticos que fizeram resgate em dinheiro vivo na boca do caixa. É a lista "de pessoas indicadas pelo Partido dos Trabalhadores", disse Simone, que lhe foi passada pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o suposto condutor do mensalão.

NEGOCIAÇÕES

O relato de Simone, diretora-financeira da SMPB Comunicação Ltda, preenche oito páginas e aponta os caminhos da mesada no Congresso. Ela afirmou ter "presenciado negociações" entre Valério e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, "para tratar de empréstimos". Falou de Zilmar Fernandes da Silveira, sócia do publicitário Duda Mendonça, ligando-a ao detetive Davi Rodrigues Alves, da Polícia Civil de Minas, sacador de R$ 6,5 milhões. "Seguindo orientação de Zilmar, a SMPB autorizava o Rural a entregar a Davi os valores referentes a cheques que emitia", declarou a diretora-financeira.

Ela disse "não saber" por que Zilmar não recebia tais valores em seu próprio nome: "Os cheques destinados a Zilmar eram emitidos nominalmente à SMPB e endossados por ela, o procedimento seguia determinação de Valério."

A partir de 2004, revelou Simone, o empresário passou a orientá-la para que realizasse depósitos na conta da corretora Bônus-Banval. Os valores destinados ao PT.

Valério também teria determinado a ela transferências para a conta da Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações S/C Ltda. Segundo Simone, Valério contou que as quantias repassadas à Guaranhuns eram destinados ao líder do PL na Câmara, Valdemar Costa Neto, que segunda-feira renunciou ao mandato de deputado.

CONTABILIDADE

"Acredito que todos os valores sacados em meu nome e entregues a terceiros, bem como os depósitos nas contas da Bônus e da Guaranhuns são referentes aos empréstimos feitos por Valério junto a instituições bancárias e que eram destinados ao PT", disse a diretora da SMPB.

Simone acrescentou que os comprovantes de pagamentos foram encaminhados ao escritório Prata e Castro, em Belo Horizonte, para serem lançados na contabilidade da SMPB. "Geralmente, era combinado horário para a entrega dos valores na agência do Rural, mas quando o destinatário não comparecia eu deixava um documento ou uma anotação com o nome da pessoa autorizada a receber."

A diretora da SMPB confessou que uma vez solicitou um carro-forte para transporte de R$ 650 mil para o prédio da Confederação Nacional do Comércio, onde funciona a SMPB em Brasília. O dinheiro foi entregue aos destinatários no hall de entrada. Parte foi para as mãos de João Claudio Genu, assessor parlamentar do deputado José Janene, do PP-PR. Simone também disse ter entregue dinheiro para José Luiz Alves, ex-assessor do Ministério dos Transportes, e para Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL.