Título: 'Por sorte, não temos mais casos de contaminação'
Autor: Silvana Guaiume
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Vida&, p. A20

Em entrevista ao Estado, Dalton Chamone, diretor da Fundação Pró-Sangue, em São Paulo, o maior hemocentro da América Latina, confirma que a contaminação de Campinas foi mesmo por conta da janela imunológica. Mas diz também que esse tipo de infecção pode ser mais comum do que se imagina. O senhor acredita que a contaminação foi por conta da janela imunológica do vírus?

Sim. O hemocentro de Campinas tem alto nível tecnológico e, certamente, fez todos os testes necessários. Foi falha imunológica. Significa que, se uma pessoa se contaminar no dia da doação, os exames da bolsa de sangue darão resultados negativos para o HIV durante 28 dias.

Isso pode ocorrer em qualquer hemocentro?

Qualquer banco de sangue público do País corre o risco de ter bolsa de sangue contaminada por conta da janela imunológica. Uma pesquisa da Pró-Sangue há três anos registrou que 1 em cada 70 mil bolsas de sangue pode ter o vírus HIV graças à janela imunológica.

Por que os casos de contaminação não são freqüentes?

Por sorte.

Existe um teste para detectar o vírus em menos tempo?

Sim. É o NAT (Nucleic Acid Test). Ele diminui a janela para sete dias. O problema é que ele custa US$ 25. O teste comum de aids custa R$ 7. Há três anos cheguei a levar uma proposta para o José Serra, quando ele era ministro da Saúde, pedindo para o SUS incorporar o teste. Ele aprovou a idéia, mas saiu do governo. A proposta está até hoje parada em Brasília. Grandes centros privados no Brasil, como os Hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein, fazem o teste. Mas 90% do sangue do País está nos hemocentros públicos.