Título: Empresários vão a Lula e avisam que discurso não blinda economia
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Nacional, p. A4

Presidente Lula recebe lista de projetos cuja aprovação é considerada fundamental para garantir o crescimento

Preocupado em tirar o governo da crise provocada por denúncias de corrupção, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu ontem com líderes empresariais. Apresentou um diagnóstico otimista sobre as perspectivas da economia brasileira, mas ouviu algumas cobranças. "Não se blinda a economia com medidas artificiais e discursos. Cada instituição tem que cumprir o seu papel. O governo tem que governar e o Congresso tem que legislar, independentemente da crise política", disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro. O presidente comandou dois encontros no Palácio do Planalto. De manhã, recebeu dos empresários uma lista de projetos cuja aprovação pelo Congresso é considerada fundamental para garantir o crescimento econômico. De tarde, com a ajuda do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, defendeu os rumos da política econômica e garantiu que não haverá mudanças.

Ao final das reuniões, realizadas a portas fechadas, Palocci disse que todos os sinais mostram que a economia está saudável e não sofreu contaminação da crise política. "Nós não estamos carecendo de blindagem e eu jamais trocaria as medidas estruturais por reuniões de blindagem", afirmou. "O que blinda a economia é a reserva da balança comercial, das transações correntes, o resultado das conquistas do risco-país, as contas fiscais, o equilíbrio da inflação. Estes elementos blindam a economia fortemente e, mesmo num período de dificuldades na área política, estão levando à melhoria dos indicadores econômicos."

Armando Monteiro contou que, apesar do tom predominantemente positivo do discurso, Lula manifestou preocupação com a possibilidade de que os trabalhos das comissões parlamentares de inquérito levem a uma situação de paralisia. "O presidente acha que o processo de investigação deve seguir seu curso e que há exacerbação do debate político, o que considera normal", disse Monteiro. "Mas advertiu que o governo precisa seguir em frente, cumprindo agenda, porque considera importante que se criem as condições e resguardem o ambiente, para que não seja criado um quadro que prejudique a economia e o País."

O presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Antônio de Salvo, defendeu a posição de Lula: "O presidente quer apurar, mas também quer que as coisas naveguem dentro de uma mínima lógica, sem extrapolar os limites". Já o presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Clésio de Andrade, assegurou que os empresários farão o possível para que a turbulência política não acabe prejudicando o desempenho econômico do País: "Estamos todos empenhados para que essa crise passe".

Ao longo das duas reuniões, o presidente Lula disse aos empresários que vai continuar viajando pelo País e participando de eventos públicos, estratégia que adotou nas duas últimas semanas para tentar resistir à crise. Foi uma repetição do discurso usado por ele anteontem numa conversa com sindicalistas em Teresina. Na ocasião, o presidente afirmou que andava "meio trancado" no gabinete e precisava mesmo se reaproximar dos chamados movimentos sociais.

Segundo relato dos empresários, Lula também disse ter montado "um governo em três anos e agora está na hora de inaugurar as obras". Ele prometeu: "E vou inaugurar". Um dos participantes resumiu assim o espírito dos encontros de ontem: "A mensagem do presidente é baixar a bola da crise".