Título: 'Estava com medo de alguém me matar', diz o empresário
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Nacional, p. A7

Valério conta que acontecem coisas estranhas quando anunciam que ele vai depor

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza revelou em entrevista ao Estado que em seu primeiro depoimento na CPI dos Correios chegou a temer pela própria vida. Valério contou que, antes de sua inquirição na CPI, permaneceu escondido em um hotel em Taguatinga, cidade-satélite próxima de Brasília. "Estava com medo de alguém me matar. Por isso, eu fui para Taguatinga", contou.

Agora, segundo ele, seu medo é outro. Valério teme ser preso preventivamente. O publicitário já entregou seu passaporte ao Ministério Público Federal, mas ressalvou que sempre antes de um depoimento seu ao Congresso acontece alguma coisa estranha. Há dois dias, de acordo com ele, roubaram talões de cheques e promissórias de sua mulher, Renilda de Souza. Os papéis foram encontrados por um porteiro perto de um condomínio.

Segundo Marcos Valério, alguém teria feito isso com o objetivo de criar um clima de que ele estaria destruindo provas para forçar sua prisão preventiva. "Isso tem acontecido sempre que anunciam que eu vou depor na CPI", afirmou. O empresário contou que até um CPF e uma identidade falsa foram deixados no município de Varginha na porta da Rede Globo da região do Sul de Minas.

Marcos Valério admitiu que até aqui omitiu muita coisa. Até mesmo para atender a um pedido do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, com quem teve um demorado encontro em Belo Horizonte. No entanto, agora seguindo o conselho da família, ele garante que pretende seguir o caminho da verdade.

APELO

"Ele não tem a eloqüência de um Roberto Jefferson, mas tem de falar a verdade", aconselhou o irmão mais novo do empresário, Marcos Vinícius. Marcos Valério disse que, além dos apelos dos parentes, agora vai seguir os apelos da opinião pública. Mas não se espere dele nada contra Delúbio, com quem mantém laços fortes de amizade. No entanto, avisa que vai contar tudo o que sabe aos poucos e da mesma forma que o presidente licenciado do PT, deputado Roberto Jefferson (RJ), fez: sempre preservando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Valério, acusado de ser o operador do mensalão, não perdoa o fato de o ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP) não ter assumido parte de sua responsabilidade, deixando que ele e Delúbio respondessem sozinhos por todos os atos. "Ele é frio, não é amigo de ninguém, é arrogante e acha que é Deus", afirmou.

GARANTIA

O publicitário assegurou , em entrevista exclusiva ao Estado, que o ex-ministro se colocou como espécie de garantia e conforto para que os bancos Rural e BMG fizessem empréstimos de até R$ 55 milhões ao PT.

"O Delúbio não vai confirmar porque ele tem uma disciplina militar e uma fidelidade canina. Mas os bancos só emprestaram porque sabiam que tinham um conforto, uma garantia", disse Valério.