Título: 'Claro que Dirceu era avalista'
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Nacional, p. A7

Dias e outros oposicionistas reagem a entrevista de Valério

O líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE), disse que não ficou surpreso com a revelação do empresário Marcos Valério de que os bancos emprestavam dinheiro ao PT porque o ex-ministro José Dirceu era a garantia. "Todo mundo já sabia disso. O PT não fazia nada sem a autorização do Dirceu", disse José Jorge. Em entrevista ao Estado, na quinta-feira, Marcos Valério - apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador do mensalão - disse que Dirceu era o "avalista político" de todos os empréstimos bancários feitos pelo PT. Valério, no entanto, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sabia de toda a movimentação bancária de seu partido. Para os parlamentares da oposição, essa é a grande dúvida.

"Claro que o Dirceu era o avalista, mas não era só ele, era o regime, o governo. A garantia em que os bancos apostavam era essa", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

O deputado Carlos Abicalil (PT-MT), sub-relator da CPI dos Correios, prefere ficar com a palavra de seu colega Dirceu. "O Dirceu diz que não sabia dos empréstimos. O Valério afirma que ele sabia. O Delúbio Soares diz que o Dirceu não sabia. Então, está 2 a 1. Prefiro acreditar no Dirceu", disse ele. Para o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), a declaração de Valério muda o que disse na CPI: "Ele tinha dito que tudo era controlado pelo Delúbio."

Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM), o ex-ministro José Dirceu acabará cassado. "O Dirceu usou de valentia falsa ao dizer que não renunciaria. O eleitor desavisado pode achar que ele é diferente de Valdemar Costa Neto, que renunciou, mas não há bravura nisso. Ele sabia que não poderiam abrir o processo contra ele porque não estava no exercício da atividade parlamentar", disse Virgílio. "Sabendo disso, chegou ao Conselho de Ética arrotando valentia."

Marcos Valério disse que os diretores dos bancos BMG e Rural sabiam que Dirceu acompanhava as negociações dos financiamentos. Chegou a fazer provocação: "Algum banqueiro do País daria o aval para Delúbio e Valério? Os bancos só deram o aval porque sabiam que por trás tinha um conforto, uma garantia." Valério disse ainda que vai contar tudo o que sabe, mas a conta-gotas. "Vou fazer um estrago, um barulhão." Ele revelou ainda que Delúbio avisava Dirceu sempre que novo empréstimo era concedido ao PT.

No depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, na terça-feira, José Dirceu disse que só sabia dos empréstimos para o PT no BMG, de R$ 2,4 milhões, no Rural, de R$ 3 milhões, e no Banco do Brasil, de R$ 21,5 milhões. Todos os empréstimos feitos para o caixa 2, disse Dirceu, são problema da direção do PT. Disse que, como ministro, não tinha condição de acompanhar a vida do PT.