Título: Relator vê indícios contra 18 parlamentares
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Nacional, p. A12

A CPI dos Correios vai concluir dentro de dez dias a lista dos parlamentares contra os quais há provas ou indícios de quebra de decoro. Sobre os quais pesarem provas, será recomendada a cassação. Os nomes dos demais serão apresentados à CPI do Mensalão, informou ontem o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Em quase dois meses de trabalho, 18 nomes, entre eles o do ex-ministro da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP), já foram mencionados. Também estão na relação dos deputados que deverão ter os mandatos colocados em xeque pelo Conselho de Ética da Câmara os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Josias Gomes (PT-BA), Bispo Carlos Rodrigues (PL-RJ), José Janene (PR) e Roberto Jefferson (RJ). Os critérios que vão definir quais deputados deverão ter os nomes enviados ao Conselho de Ética serão definidos em acordo político e ainda entre os integrantes da CPI dos Correios que vão votar o parecer. "Ainda não elegemos critério nenhum", afirmou Serraglio.

O relator, porém, indicou que os parlamentares que tenham utilizado caixa 2 nas campanhas devem estar na lista a ser encaminhada ao Conselho de Ética. "A meu ver, caixa 2 é equivocado. Uma sucessão de equívocos não o legitima", disse.

Em relação a Jefferson, Serraglio mostrou-se quase convencido de que o presidente licenciado do PTB operava um esquema de corrupção nos Correios. Mas procurou ser cauteloso. "Eu até poderia dizer que tenho convicção. Mas acho que seria inadequado fazer uma avaliação neste momento." A decisão, segundo o relator da CPI, tem de ser construída em plenário. "Não sou o dono da verdade. Tudo que se constrói tem que ser palatável."

SUBCOMISSÕES

Os integrantes da CPI dos Correios também definiram que, das 61 pessoas que ainda devem prestar depoimento, só 18 vão dar esclarecimentos no plenário. Outras 12 vão falar à subcomissão de depoimentos, uma das quatro criadas ontem. Demais depoentes serão encaminhados à Polícia Federal, anunciou o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS).

Entre os 18 escalados para falar em plenário, com direito a transmissão pela TV Senado, estão o ex-ministro José Dirceu, o procurador afastado da Fazenda Glênio Guedes, a sócia do publicitário Duda Mendonça, Zilmar Fernandes, e Cristiano Paz, sócio do empresário Marcos Valério, apontado por Jefferson como operador do mensalão.

Além da subcomissão de depoimentos, a ser coordenada pelo deputado Carlos Abicalil (PT-MT), foram criadas ontem as subcomissões de análise de movimentação financeira, sob comando do deputado Gustavo Fruet (PT-PR); a de análise de contratos, nas mãos do deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP), e a de sistematização e controle, de responsabilidade do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

O presidente da CPI dos Correios disse ontem que os trabalhos devem ser concluídos até novembro. "O País não pode viver só de CPI", disse Delcídio. Tanto ele quanto o relator negaram ontem que a decisão de aprontar, dentro de dez dias, um parecer, ainda que parcial, em relação aos parlamentares citados na apuração da comissão seja uma disputa com os parlamentares que integram à CPI do Mensalão, iniciada quinta-feira. "Não se trata de afronta", assegurou Serraglio, que prefere chamar a CPI do Mensalão de "CPI do Suborno". "É menos pejorativo."