Título: Contribuintes pagarão pelo assalto
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Metrópole, p. C1

BRASÍLIA - Os contribuintes vão ter de bancar o prejuízo causado pelo roubo dos R$ 150 milhões do cofre do Banco Central, em Fortaleza (CE), o maior já registrado no País e o segundo maior do mundo. Pelas regras em vigor, todo o prejuízo do banco deve ser contabilizado no balanço da instituição. Quando o resultado é lucro, isso é repassado ao Tesouro Nacional, para reforçar o caixa do governo, composto basicamente por impostos pagos pela população. Mas, quando o BC tem prejuízo, solidariamente o buraco é coberto pelo Tesouro. O BC não tinha seguro para o valor roubado. Essas explicações foram dadas ontem por técnicos do governo que acompanham as investigações sobre o caso, que estão sendo feitas pela Polícia Federal e por funcionários do BC, em Fortaleza.

Uma força-tarefa investiga o roubo. A equipe conta com cem homens da PF e das Polícias Civil, Militar e Rodoviária.

A PF ainda não tem indicações sobre o destino dos autores do roubo nem do dinheiro, mas acredita que os integrantes da quadrilha não sejam nordestinos. Segundo a PF, cerca de dez homens alugaram há três meses uma casa perto do BC e cavaram um túnel de 78 metros de extensão para chegar ao cofre. Funcionários do BC fecharam o cofre às 18 horas de sexta-feira e o reabriram na manhã de segunda-feira, quando descobriram o roubo.

Segundo os técnicos do governo, as notas de R$ 50 recolhidas dos bancos estavam no cofre esperando para ser submetidas à verificação do estado de conservação. As notas velhas, rasgadas e deterioradas seriam incineradas. Os ladrões tiveram o cuidado de só levar as notas usadas, sem numeração em série, para dificultar o rastreamento do dinheiro.

O BC ainda não calculou a quantia roubada. A PF estimou o valor em R$ 150 milhões com base nos contêineres que foram violados. O cofre continua interditado pela PF, que só deverá liberar o local hoje. Com a liberação, o BC poderá fazer o levantamento do valor roubado.

SINDICÂNCIA

O presidente do BC, Henrique Meirelles, determinou anteontem a abertura de sindicância sobre o assalto - a comissão terá 30 dias para apresentar relatório. Integrantes da comissão estão em Fortaleza acompanhando a investigação. Eles estiveram duas vezes na casa que era usada como empresa de fachada pelos ladrões, mas não quiseram dar entrevista.

Meirelles nomeou ainda uma comissão formada pelos diretores de Estudos Especiais, Alexandre Tombini, de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, e de Fiscalização, Paulo Sergio Cavalheiro, e pelo procurador-geral do BC, Francisco José de Siqueira, para apurar o caso.

Segundo o delegado da PF Luiz Wagner Mota Sales, o sistema de vigilância do cofre é feito por uma empresa terceirizada, cujo nome ele não revelou. As imagens são monitoradas por uma pessoa dessa empresa. E, estranhamente, a ação dos ladrões não foi filmada.

A polícia cearense acredita que o dinheiro roubado ainda esteja, pelo menos em grande parte, no Ceará. Para a polícia, apesar de haver a informação de que o grupo utilizava um carro tipo furgão, é pouco provável que as 3,5 toneladas do dinheiro tenham sido transportadas de uma só vez.

"É um risco muito grande para os criminosos. Existem muitas barreiras e postos policiais nas BRs e nas rodovias estaduais. Nossa aposta é que o dinheiro saia do Estado aos poucos para não levantar suspeitas", afirmou o delegado Romério Almeida, titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF).