Título: Policiais investigam participação de engenheiro
Autor: Carmen Pompeu
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Metrópole, p. C3

A polícia investiga a participação de um engenheiro na construção do túnel de 78 metros que levou os bandidos até a caixa-forte do Banco Central em Fortaleza. A suspeita de que alguém com essa qualificação participou do assalto está ligada à precisão do trabalho realizado pela quadrilha que roubou R$ 150 milhões. O túnel é uma obra de engenharia feita com levantamento topográfico, iluminação e ventilação internas. Para os policiais é quase certo que o dinheiro ainda não saiu do Ceará. Caso a quadrilha seja mesmo composta por dez homens, como supõe a Polícia Federal, cada um teria de transportar cerca de 350 quilos de notas de R$ 50,00, o que poderia chamar a atenção. Envolvidos na apuração do crime apostam que o mais provável é que os criminosos tenham escondido tudo em algum lugar próximo de Fortaleza para retirar o dinheiro quando as buscas da polícia diminuírem.

Essa desconfiança se justifica por uma razão: um roubo como o de Fortaleza geralmente é planejado durante meses e muito dinheiro é investido no crime. Os policial estimam em seis meses o tempo de planejamento e levantamento de informações e construção do túnel. Já os gastos com uma ação como esse ficam entre R$ 100 mil e R$ 150 mil, pois a quadrilha precisa pagar aluguéis, comprar carros, ferramentas, armas, comida, estadia e transporte para os criminosos, além de preparar um esquema para a fuga com o dinheiro.

A possibilidade de envolvimento de um funcionário ou ex-funcionário do banco é considerada bastante provável pelos policiais, pois só com informações desse tipo os ladrões conseguiriam saber a localização exata da caixa-forte do banco.

Os peritos da Polícia Federal que examinaram o interior da casa da Rua 25 de Março, de onde partia o túnel para o banco, encontraram diversos fragmentos de impressões digitais. Eles devem ser confrontados com os de ladrões suspeitos de terem participado do crime. Por enquanto, as investigações apontam para bandidos de fora do Ceará, por causa do sotaque dos criminosos que freqüentavam a casa.

CABELO

Uma das suspeita é de que o crime tenha sido praticado pelo bando liderado por Moisés Teixeira da Silva, o Cabelo, de 34 anos. O grupo é acusado por dois roubos milionários ocorridos em São Paulo em 2004. Em ambos casos os bandidos alugaram casas perto de caixas-fortes de empresas de transporte de valores e construíram passagens até o alvo.

No primeiro caso, quebraram uma parede e saíram na laje da empresa Rodoban, na Lapa, zona oeste. Fugiram com R$ 8 milhões. No segundo, construíram um túnel a partir de uma casa até a Transbank da Penha, na zona leste. Os funcionários foram dominados e os ladrões levaram R$ 4,7 milhões.

Cabelo está foragido desde 8 de julho de 2001, quando escapou da antiga casa de Detenção de São Paulo por meio de um túnel batizado pelos criminosos de Corinthians-Itaquera, em referência a uma estação do metrô paulistano. Ao todo 105 bandidos escaparam naquele dia. Cabelo é acusado de ter ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC).