Título: Tarso sugere que PT ache alguém para seu lugar
Autor: Vera Rosa,Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Nacional, p. A10

BRASÍLIA - Um dia depois de ter se queixado publicamente da interferência "constrangedora" do ex-chefe da Casa Civil e deputado José Dirceu (SP) na reunião do diretório nacional, o presidente nacional do PT, Tarso Genro, afirmou que "seria bom" se o Campo Majoritário conseguisse "outro nome" para substituí-lo na disputa pelo comando do partido, marcada para setembro. Tarso é o candidato do Campo Majoritário à presidência do PT, mas ameaça desistir de concorrer à eleição direta, com voto dos filiados, por causa de problemas com Dirceu. O assunto foi tratado ontem numa rápida conversa por telefone entre Tarso e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o principal fiador da candidatura de seu ex-ministro da Educação. Ele quer que Tarso fique à frente do PT. Apóia sua idéia de "refundação" do partido, com mudança de métodos, e espera convencê-lo a não jogar a toalha.

"Até agora estou mantendo minha candidatura, porque não há negociação em andamento, mas eu gostaria que fosse outro nome", insistiu Tarso na tarde de ontem, depois de uma reunião de quatro horas com a bancada do PT na Câmara. "Seria bom se a bancada conseguisse isso e até que pudesse colocar a mão no ombro de outro companheiro e dizer: 'Vai! Tu representas 80% do partido e tu és o candidato ideal para a transição", acrescentou.

Em conversas reservadas, o presidente do PT tem dito que José Dirceu conspira contra ele nos bastidores e "planta" notícias sobre um suposto caixa 2 de sua candidatura a governador do Rio Grande do Sul, em 2002. Na reunião de ontem com os integrantes da bancada do PT na Câmara, ele ficou frente a frente com Dirceu. A portas fechadas, fez críticas à antiga direção do partido. Na tentativa de conter o mal-estar dos últimos dias, o ex-chefe da Casa Civil garantiu que apoiava Tarso e não tinha nada contra ele.

ARGUMENTOS

Dirceu falou durante oito minutos. "Não estou interferindo em nada no PT, nem no Campo Majoritário", assegurou, numa referência ao grupo moderado que detém quase 60% dos cargos de direção no partido. Dirceu observou, no entanto, que lutará para se defender da "cassação política" em todas as instâncias. Reiterou, ainda, que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares - acusado de ter "terceirizado" o partido por meio do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza - também tem "direito a defesa" e não pode ser execrado.

Diante de 60 dos 90 deputados federais do PT, Tarso Genro argumentou que tem a missão de dirigir o partido no processo de transição, mas deixou claro que não aceitará ser comandado pela antiga maioria. Traduzindo: não quer ser uma rainha da Inglaterra. Sem citar o nome de Dirceu, ele afirmou que o PT tem errado muito e que o governo, até agora, não deu respostas concretas para sair da crise. Além disso, bateu na tecla de que é preciso construir "um novo campo hegemônico" no partido.

"Minha relação com o deputado José Dirceu é normal. Temos opiniões idênticas em alguns temas e divergentes em muitos outros", resumiu Tarso, que ontem também conversou com o ex-chefe da Casa Civil por telefone. Na prática, ele quer respaldo do PT e especialmente da bancada na Câmara, onde enfrenta muitas resistências, para "desinterditar" o debate no PT, que, na sua opinião, é barrado pelo grupo de Dirceu.

"Não estou dizendo que é preciso um candidato à presidência do PT que tenha unanimidade, até porque toda unanimidade é burra", disse Tarso. "Mas, para se apresentar como candidato, o nome tem de agregar um bloco político forte, com apoio irreversível da bancada."

ELEIÇÃO

A falta de recursos para financiar a eleição interna abriu nova crise no partido. Os primeiros debates, marcados para o próximo fim de semana no Pará e no Amapá, foram adiados. O cronograma está atrasado. Até agora o PT não conseguiu imprimir o material de apresentação das candidaturas. Além de Tarso, outros seis candidatos de esquerda e de centro concorrem à presidência do partido.

No sábado será realizado um debate das chapas em São Paulo, maior colégio eleitoral, com quase 200 mil dos 830 mil filiados aptos a votar. Tarso, porém, já avisou que não irá.