Título: Saque de R$ 300 mil indica compra de apoio pelo PT no Pará
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Nacional, p. A8

Candidato do PSB derrotado no 1.º turno teria recebido dinheiro para apoiar petista

BRASÍLIA - Charles dos Santos Dias, ex-líder estudantil e antigo assessor do ex-senador Ademir Andrade (PSB-PA), deixou digitais - assinatura, números de RG, CPF e celular - em uma transação que envolve repasses do empresário do mensalão Marcos Valério Fernandes de Souza para o PT comprar apoio político do PSB. Documentos reunidos pela Polícia Federal mostram que Charles sacou R$ 300 mil na agência Assembléia do Banco Rural, em Belo Horizonte, em maio de 2003. Esse dinheiro teria sido usado para o PSB quitar dívidas da sigla relativas ao primeiro turno da campanha de 2002 nas eleições para o governo do Pará. Charles descontou 3 cheques, de R$ 100 mil cada um, no dia 6 de maio de 2003. Os cheques foram emitidos pela SMPB Comunicação, agência de Valério. Nas 3 operações ele deixou rastro. Assinou recibos declarando o embolso dos valores "em espécie". Abaixo da assinatura, Charles escreveu de punho próprio o número do RG, o do CPF e telefone para contato.

Ademir Andrade, candidato do PSB ao governo do Pará em 2002, foi derrotado no primeiro turno daquele pleito. No segundo turno, em troca de apoio à candidata Maria do Carmo, do PT, o ex-senador teria solicitado recursos para pagar despesas de sua campanha. PT e PSB viram seus planos frustrados, porque acabou eleito Simão Jatene, do PSDB. A negociação para compra do apoio do PSB teria sido realizada sob orientação de Delúbio Soares, então tesoureiro do PT, e do deputado Paulo Rocha (PT-PA), presidente estadual do partido. A CPI dos Correios identificou saques no montante de R$ 920 mil em favor de Rocha, no período entre 7 de abril de 2003 a 5 de julho de 2004.

Desse montante, R$ 620 mil foram resgatados por uma assessora do parlamentar, Anita Leocádia, e R$ 300 mil por Charles. Rocha seria beneficiário do mensalão. Os dados constam da lista entregue à PF pela diretora-financeira da SMPB, Simone Vasconcelos. Filiado ao PSB, Charles nega os saques.

A PF tem informação de que o apoio à candidata do PT, em 2002, teria sido acertado durante reunião na casa de uma dirigente do PSB em Belém. Rocha não quis falar sobre a compra de apoio do PSB. Andrade, da executiva do PSB, disse que "não conhece e nunca viu esse Valério, nem Delúbio". Segundo ele, "as explicações têm que sair do Rocha, ele deve esclarecer com a devida calma".

Sobre o suposto pacto, Andrade afirmou que não tem fundamento. "Tenho 30 anos de vida pública dedicada à luta do povo, sempre na esquerda, defensor dos sem-terra, nunca me servi de qualquer coisa de governo, comportamento absolutamente impecável, e de repente me vejo envolvido em situações como essa", protestou.