Título: Greve da Receita ameaça produção da Zona Franca
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Economai & Negócios, p. B6

A greve dos técnicos da Receita Federal, iniciada no dia 20 do mês passado, começa a afetar a produção das indústrias da Zona Franca de Manaus. A Semp Toshiba, fabricante de equipamentos de áudio e vídeo, informa que vai parar a linha de montagem até sexta-feira pela falta de componentes. A companhia tem 40 contêineres de componentes esperando a liberação no porto de Manaus (AM). A coreana Samsung entrou na sexta-feira com uma liminar na Justiça pedindo a liberação dos componentes importados, segundo o vice-presidente de Novos Negócios da companhia, Benjamin Sicsú. Até o momento, a fábrica de Manaus não apresenta diminuição no ritmo de produção. Mas, pelo fato de trabalhar praticamente sem estoques de insumos, a empresa está preocupada. Por isso, foi uma das primeiras a entrar com a medida judicial.

"Os fabricantes de eletroeletrônicos estão bastante apreensivos com a greve", afirma o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab. Ele ressalta que a falta de componentes já começa a prejudicar a produção e que há risco de paralisação.

O vice-presidente Industrial da Philips para a América Latina, Djalma Alves da Silva, diz que a companhia tem carga de componente importado parada no porto e no aeroporto aguardando a liberação, mas que até agora esse atraso não afetou a linha de produção. "Estamos preocupados, especialmente agora que o mercado se estabilizou em nível elevado."

Diante desse impasse, os empresários da Zona Franca se reúnem hoje no Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam) para avaliar a situação. O presidente da entidade, Maurício Loureiro, diz que o processo de liberação de cargas está lento e começa a prejudicar as empresas, que podem vir a paralisar a produção.

"Cada dia que a produção fica paralisada significa um prejuízo de US$ 50 milhões", observa Loureiro. Para chegar a esse número, ele leva em conta que, no ano passado, a Zona Franca de Manaus faturou US$ 14 bilhões.

Os portões da entrada da alfândega no Porto de Manaus estão fechados desde o início da greve da Receita Federal, no mês passado. Não há movimento no porto ou caminhões parados no pátio, mas os contêineres indicam em placas que estão lotados.

Segundo a inspetora da Alfândega do Porto de Manaus, Maria Elízia Alves, cerca de 90% dos técnicos estão em greve. "Há empresas entrando com mandados de segurança na tentativa de liberar suas mercadorias, mas nenhum juiz até agora concedeu liminar."

TÉCNICOS

Existem no Amazonas 140 técnicos da Receita Federal, dos quais 125 alocados em Manaus, segundo o delegado sindical do Amazonas Luiz Eduardo Oliveira. Ele explica que o motivo da greve é a falta de definição de funções a serem exercidas pelos técnicos da Receita, especialmente agora, com a criação da Super-Receita. "Não somos contra a Super-Receita, mas queremos a reestruturação dos cargos." Desde o dia 20 de julho já foram feitas várias paralisações. A mais longa é a atual, que deve ir até o dia 15 deste mês.