Título: BNDES contraria IBGE e aponta aumento na intenção de investir
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Análise leva em conta financiamentos para máquinas e equipamentos via Finame

RIO - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) detectou um forte aumento da disposição dos empresários em investir em 2005, em contraste com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostram retração na formação bruta de capital fixo (um conceito bem próximo do investimento) no último trimestre de 2004 e no primeiro de 2005. A análise do BNDES, que explora de nova forma o banco de dados da instituição, consta do primeiro número de umA nova publicação trimestral, a Sinopse do Investimento, a ser apresentada hoje pelo diretor responsável pela área de Planejamento, Antônio Barros de Castro, a um grupo de economistas.

Nos primeiros sete meses de 2005, houve um aumento de 87% nos desembolsos do BNDES para financiar o investimento na indústria de transformação, em relação a igual período de 2004. Os maiores desembolsos vieram dos segmentos de alimentos e bebidas, metalurgia básica, celulose e papel, veículos automotores, produtos químicos, máquinas e equipamentos. Excluindo-se o programa temporário Progeren, voltado ao capital de giro, e não à ampliação da capacidade produtiva, o aumento cai para 41,1%.

A nova análise do BNDES, porém, que consta do editorial da Sinopse de Investimento, refere-se especificamente aos desembolsos do Finame, a linha voltada a máquinas e equipamentos. De janeiro a julho de 2005, o desembolso médio mensal saltou de R$ 813 milhões para R$ 1,009 bilhão, em um aumento de 24%. O editorial da publicação destaca, porém, que o importante item chamado de "bens de capital sem rodas" teve um crescimento de 91,7% naquele período.

Os bens de capital sem rodas referem-se à categoria das máquinas e equipamentos, excluindo o setor agrícola e bens de transporte. Castro explica que "comprar um caminhão é sem dúvida importante, mas é algo externo à empresa; a aquisição de bens de capital sem rodas significa movimentos como trocar tornos, caldeiras, fornos, com os quais o empresário busca modernidade, flexibilidade, atualização e introdução de novos produtos". Segundo o diretor do BNDES, os bens de capital sem rodas são "diretamente responsáveis pelo aumento da eficiência produtiva e pela modernização das empresas".

O editorial da Sinopse do Investimento mostra que o comportamento da economia em 2005 está sendo muito diferente das previsões do mercado financeiro. Em dezembro, previa-se que a taxa Selic (juro básico) ficaria estável (em 18%) até março e começaria a cair em abril. A taxa de câmbio se desvalorizaria para R$ 3,00 no fim de 2005. Na verdade, a Selic subiu até o atual nível de 19,75%, e o câmbio (até agora) caiu para menos de R$ 2,30. Mesmo antevendo-se um câmbio mais favorável, previa-se uma queda no saldo comercial em 2005 para US$ 26,4 bilhões, quando na verdade ele está caminhando para US$ 40 bilhões.

A conclusão é que o crescimento em 2005 continua a ser liderado pelas exportações e pelos bens duráveis, parecido com o padrão de 2004, não tendo se generalizado e atingido o setor de não-duráveis, associado ao aumento de renda. Para o BNDES, este estancamento da recuperação na sua fase inicial é atribuível em parte ao rigor da política econômica (ver abaixo).