Título: Sul do Brasil abrigou avô dos dinos
Autor: Clarissa Thomé
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2005, Vida&, p. A22

RIO - Um herbívoro pequeno, de menos de 1 metro de altura, está entre os dinossauros mais antigos encontrados no País. O avô dos dinos é um ornitísquio (uma das duas grandes subdivisões dos dinossauros) e viveu no sul do País de 220 milhões a 230 milhões de anos atrás (período triássico). A descoberta do fóssil, ocorrida em Agudo (RS), foi anunciada ontem no Rio, no 2º Congresso Latino-Americano de Paleontologia de Vertebrados. No encontro, argentinos apresentaram também outro ornitísquio, um Euiguanodontia encontrado na Patagônia. Diferentemente do gaúcho, o argentino era um dos mais compridos da América do Sul. Tinha 6 metros de comprimento, enquanto os fósseis de sua espécie eram de bichos cujos tamanhos variavam entre 50 centímetros e 2 metros.

O ornitísquio gaúcho, que ainda não teve a espécie definida, é o primeiro encontrado no Brasil. Já havia indícios da passagem desses herbívoros - pesquisadores descobriram pegadas em Araraquara (SP) e Sousa (PB).

"As pegadas são de cerca de 80 milhões de anos atrás. Mas o ornitísquio encontrado em Agudo é o primeiro do período triássico", diz o paleontólogo Max Langer, da USP de Ribeirão Preto. Ele diz que a morfologia dos dentes está entre as características que revelam que os fósseis são de um ornitísquio. Há na base da parte interna do dente uma projeção que era usada para macerar as plantas. A mandíbula também tem uma protuberância, o predentário.

Isso leva os pesquisadores a calcular que o bicho tinha um bico córneo, como o das tartarugas. Langer acredita que o ornitísquio gaúcho seja aparentado ao silassauro, encontrado na Patagônia.

O ornitísquio argentino é mais jovem que o brasileiro. Viveu há 90 milhões, no período cretáceo. Os paleontólogos Juan Porfiri e Jorge Calvo, da Universidade Nacional de Conahue, encontraram vértebras cervicais, dorsais, parte da cauda e do esterno e a cintura pélvica na Patagônia. "Só não encontramos o crânio e os membros", afirma Porfiri. Os ossos da cintura pélvica, em forma de S, revelam que se trata de um Euiguanodontia. Sob as costelas, o bicho tinha placas calcificadas, com menos de 1 mm de espessura. "Serviam mais para proteção do que para intervir na respiração", diz Calvo.