Título: 'A oração da libertação liberta do demônio'
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2005, Vida&, p. A28

Há nove anos no Brasil, o padre italiano Antonello Cadeddu se encantou com o movimento da Renovação Carismática logo que chegou ao País. "Fui atraído pela maneira de louvar Deus e o exercício do dom do cura", diz. "Conhecia o movimento, mas não com o fervor do brasileiro." O dom da cura se faz com a oração de libertação, usada entre os pentecostais, que é justamente a exorcização de forças do mal. "O ritual é praticamente idêntico, mas não posso ser chamado de exorcista porque não tenho a chancela do bispo", explica o padre. Nem todos da Igreja Católica concordam com a oração da libertação. Mas não se pode negar seu poder de atração. A seguir, o padre explica a importância do ritual e diz o que pensa do demônio.

Quantos rituais de oração da libertação o senhor faz por mês?

Cerca de três por dia, individualmente. Uma vez por semana reúno cerca de 500 a 800 fiéis na antiga Estação Rodoviária Bresser para celebrar o ritual em público. Quase a metade das pessoas que vão à missa precisa da libertação.

Do que a oração de libertação é capaz?

Ela pode ser utilizada em casos de obsessão. Ou seja, quando há uma manifestação do demônio.

É diferente da possessão?

Sim. A possessão é raríssima. Na maioria das vezes ela é voluntária. Já a obsessão pode se manifestar por meio de uma depressão, medo ou prostração combinada com a rejeição de entrar na Igreja. Depois do pecado original o homem se distanciou de Deus. Desde então, tem uma enorme sede Dele e tenta acalmar a saudade com a crença em horóscopo, macumba e pirâmides de vidro.

Quem pode praticá-la?

Um leigo que seguir os rituais da Igreja pode fazer isso. Com a diferença de que ele não pode se referir diretamente ao demônio, e sim usar o nome de Jesus.

O sr. gostaria de receber a autorização de um bispo para se tornar um padre exorcista?

Não . Me tomaria muito tempo, teria de fazer só isso. Tenho um trabalho importante na minha comunidade.

O que pensam os católicos que não seguem a linha carismática?

Em 2000, Ratzinger (Joseph Ratzinger, o atual papa Bento XVI), quando era da Congregação para a Doutrina da Fé, lançou um documento afirmando que as orações dos fiéis para que Deus os cure de suas enfermidades são legítimas. Mas recomendou que qualquer ato que se assemelhe a histeria, artificialidade e sensacionalismo fosse afastada.

Qual é a diferença entre o ritual da Renovação Carismática e o praticado pelos evangélicos?

Eles fazem disso um espetáculo. E a oração deles não liberta. Escraviza.