Título: Oposição acha cedo para falar em impeachment
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - Os partidos de oposição descartaram o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro ontem de líderes e dirigentes do PFL, PSDB, PPS, PDT, PV e da parte oposicionista do PMDB. Os representantes da oposição avaliaram que a sociedade não está madura para o afastamento de Lula e ainda não há fato que prove seu envolvimento no suposto esquema de compra de voto. A oposição pretende continuar se reunindo e criou o Fórum de Consulta Permanente para analisar a crise.

Na avaliação dos representantes dos partidos, o impedimento de Lula deve ser decisão da sociedade e não dos partidos. "Não se fala em impeachment enquanto a sociedade não exigir", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "Falta o Fiat Elba", afirmou o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), referindo-se ao recibo de compra de um Fiat Elba para o ex-presidente Fernando Collor, emitido por correntista-fantasma, que foi usado como prova de envolvimento em esquema de corrupção em seu governo, em 1992.

"O impeachment não é ato de vontade política. Existem parâmetros constitucionais que não foram preenchidos, ainda", continuou Geddel. A oposição avalia que a vontade popular poderá mudar caso apareça prova que envolva Lula.

"Impeachment não consta da nossa ordem do dia", afirmou o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE). "Se isso ocorrer, no entanto, assumiremos a responsabilidade", completou.

O PFL também reforçou a idéia de que a decisão sobre um eventual afastamento de Lula deve partir da sociedade. "Deixamos claro que quem tem força para provocar o impeachment é a sociedade e não os partidos de oposição", disse o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) afirmou que o afastamento do presidente não é interessante no momento. "É burro politicamente", afirmou Paes, argumentando que o impeachment é ruim para o País. "O impedimento de um presidente é muito traumático para a sociedade", completou."

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), disse que não é conveniente para a oposição o afastamento de Lula. Ele entende que o afastamento do presidente é um processo político e de conveniência, mais do que um processo jurídico.

O fórum da oposição decidiu pedir rapidez nos processos contra os deputados envolvidos no suposto esquema de pagamento de mensalão. Outra frente adotada pelo fórum será o de aprofundar as investigações sobre a origem dos recursos usados no esquema: se partiram de estatais, de corrupção no governo ou de aliança promíscua com empresas privadas. "Vamos aprofundar as investigações", afirmou o senador José Jorge (PFL-PE), líder da minoria no Senado.