Título: Lula diz a ministros que está 'longe de qualquer coisa' da crise
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - Depois de avaliar as últimas notícias e as consultas a juristas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está convencido de que não há qualquer dado de que ele tenha cometido crime de responsabilidade que possa levar ao impeachment. "Estou tranqüilo. Estou longe de qualquer coisa (referindo-se à possibilidade de ser enquadrado em crime de responsabilidade)", comentou Lula na reunião do gabinete de crise.

A reunião foi realizada ontem, no Palácio do Planalto. Depois de ouvir seus principais auxiliares, Lula desistiu, ao menos por enquanto, de fazer novo pronunciamento à Nação. O presidente também rejeitou a idéia de convocar o Conselho da República para discutir a crise, porque este gesto poderia ser entendido como um sinal de fraqueza do governo e o obrigaria a fazer outras convocações em caso de novas denúncias. A ordem de Lula foi que todos se dediquem ao trabalho e mobilizem suas bases no Congresso para derrubar o salário mínimo de R$ 384.

Lula avisou que, se a Câmara não derrubar o mínimo de R$ 384 - o que reduziria o salário para R$ 260 - , ele vai editar medida provisória concedendo abono de R$ 40 reais para restabelecer o valor de R$ 300 ou enviará ao Congresso projeto de lei em urgência urgentíssima com o mínimo em R$ 300.

À reunião estiveram presentes o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, Jaques Wagner, das Relações Institucionais, Antonio Palocci, da Fazenda, Dilma Rousseff, da Casa Civil, Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, e Ciro Gomes, da Integração Nacional.

No Planalto, venceu a corrente liderada pelo próprio Lula de que não deve haver novo pronunciamento. "Já falei o que tinha para falar agora", desabafou o presidente. No Palácio, há preocupações, por exemplo, em relação ao destaque que vem sendo dado ao doleiro Toninho da Barcelona, que ameaça falar sobre operações ilegais que teria feito para o PT.

Lula também ponderou que possui outras fórmulas de dizer o que pensa, como os discursos durante as viagens, que continuará fazendo. O presidente tentou mostrar um pouco mais de tranqüilidade e a avaliação no Planalto é que a temperatura da crise baixou um pouco.

O presidente insistiu em que o governo tem de reverter o clima no Congresso e fazer as votações voltarem a ocorrer. Por isso, marcou para a manhã de hoje um café da manhã com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Lula vai pedir ajuda para derrubar o mínimo e ver votada logo a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Ao escalar Jaques Wagner para ir ao Congresso negociar a aprovação das propostas, Lula tenta retomar a normalidade do País.

Lula decidiu ainda que amanhã, quando haverá manifestações contra o governo, irá a Vitória da Conquista, na Bahia, onde vai comemorar a chegada da iluminação no campo na casa de número 1,3 milhão.