Título: Discussão é 'irracionalidade', reage Dilma
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2005, Nacional, p. A6

RIO - A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, considerou uma "irracionalidade muito grande" as declarações do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). "Para ficar discutindo (o impeachment) tem de haver fato que determine isso. Respeitando a declaração do presidente Severino, porque todo mundo tem o direito de falar o que pensa, não é bom introduzir na atual conjuntura variáveis de irracionalidade. Numa conjuntura de crise temos de ter os pés no chão e a cabeça muito fria." Depois da reunião ministerial, Dilma foi para o Rio, para a entrega do Prêmio Abradee às distribuidoras de energia que mais se destacaram em 2004. A ministra mesma recebeu o prêmio de personalidade de destaque e, em seu discurso, defendeu "a apuração até as últimas conseqüências" do escândalo que envolveu a cúpula do PT.

Os empresários do setor ouviram com atenção. "Toda vez que há um processo de instabilidade, temos de avaliar melhor a situação. Até agora os investimentos não foram atingidos, até por causa da transparência como o assunto está sendo conduzido", comentou depois Orlando Gonzalez, presidente da Elektro, que ganhou o prêmio de melhor distribuidora.

Mais, tarde, Dilma afirmou não acreditar que "qualquer desses malfeitos atinja o presidente da República". Indagada se concordava com Severino, para quem há indícios para incriminar José Dirceu, ela se esquivou. "Não concordo nem discordo. Não considero que o Executivo seja instância julgadora ou punidora do comportamento de quem quer que seja", afirmou, ressaltando que julgamentos dependem da apuração dos fatos. "Garantido o direito de defesa e apurando-se responsabilidades, quem quer que seja tem de ser punido. Mas, seja o ex-ministro chefe da Casa Civil ou qualquer brasileiro, tem de haver direito à plena defesa."

PRONUNCIAMENTO

Dilma disse que pelo menos por enquanto não se cogita novo pronunciamento do presidente Lula à Nação. Ela considerou "absolutamente válido" e suficiente o de sexta-feira. "O presidente manifestou sensação de traição. Ele, como qualquer brasileiro, pode perfeitamente ter dado sua confiança a pessoas que considera o terem traído."

Na sua avaliação, Lula evitou citar porque "tem responsabilidade em não fazer julgamentos definitivos antes que os mesmos ocorram por meio" das instituições. "O presidente manifestou o que é possível a ele, que é a sensação de traição por causa de fatos que desconhecia."

Dilma ressalvou que o Poder Executivo não vai abrir mão do papel de protagonista no processo de apuração. "Uma parte expressiva das denúncias e das comprovações existentes foi feita pela Polícia Federal."