Título: Radicais infiltrados são principal ameaça
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/08/2005, Internacional, p. A18

TEL AVIV - Os extremistas da direita israelense dispostos a usar de violência para evitar a desocupação da Faixa de Gaza são um contingente pequeno, de algumas centenas de pessoas que até agora os líderes dos colonos - mais moderados - têm conseguido controlar. Na maioria, os que aparecem nas cenas de TV queimando pneus e armando barricadas vieram de colônias de religiosos na Cisjordânia e são jovens, entre os quais estudantes de seminários e adolescentes. O professor Gideon Rahat, doutor em ciência política na Universidade Hebraica de Jerusalém, diz que entre os radicais haveria membros dos grupos proscritos Kach e Kahane Chai - classificados de terroristas pela Justiça de Israel - e de out ros que na verdade têm origem nessas organizações, mas usam diversos nomes para fugir à proibição. Segundo a agência EFE, o serviço secreto de Israel tem agentes infiltrados entre os manifestantes nas colônias de Gaza e sua maior preocupação não são os jovens, mas os linha-duras de grupos como o Kach.

"Há também pessoas agindo sem vínculo com grupos políticos. Além disso, nos últimos anos ultra-ortodoxos da corrente do judaísmo hassídico (originários da Europa Oriental) começaram a tomar parte nos protestos", explica Rahat. "Todos esses grupos são mais católicos do que o papa", ironiza, usando um dito popular cristão.

Ele acrescenta que o crescimento do fundamentalismo religioso em Israel segue uma tendência também verificada nos EUA e em outros países.

Na manifestação de quinta-feira dos colonos em Tel-Aviv, contra o plano de retirada. um grupo da corrente hassídica portava cartazes com uma mensagem de seu líder, com os dizeres, em inglês e hebraico: "Alguém tem de explicar para o mundo: 'É bom que os não judeus não toquem na Terra de Israel, se quiserem viver'."

O historiador brasileiro-israelense Michel Gherman, pesquisador do Departamento de judaísmo Contemporâneo na Universidade de Tel-Aviv, acredita que os extremistas capazes de atos violentos não cheguem a 5 mil em todo o país. Gherman observa que o partido Herut, pelo qual se candidataram pessoas ligadas ao Kach nas últimas eleições, recebeu só 25 mil votos e não conseguiu eleger ninguém.

"É importante destacar que os dirigentes do Conselho Yesha (que congrega os colonos da Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza) têm conseguido controlar os radicais. E esse controle valeu elogios na imprensa israelense", diz Gherman. Mas depois que um soldado desertor matou quatro árabes num ônibus em Israel, há duas semanas, diz ele, a lua-de-mel acabou.

Para Rahat, o fato de haver grande número de jovens infiltrados nas colônias se explica por ser época de férias escolares e por causa de alguns rabinos que têm uma visão idealista sobre o Israel bíblico e exercem forte influência sobre eles.