Título: Emissário do PT gaúcho viajou de ônibus com R$ 850 mil de Valério
Autor: Fabiana Cimieri, Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Nacional, p. A10

PORTO ALEGRE - Apresentado pelo Diretório Estadual do PT do Rio Grande do Sul como o homem que ia buscar recursos distribuídos pela SMPB - uma das agências de Marcos Valério -, o engenheiro Marcos Trindade revelou ter transportado R$ 850 mil em linhas regulares de ônibus em três viagens entre Belo Horizonte e Porto Alegre. Os deslocamentos terrestres foram feitos depois da primeira viagem, aérea, em 16 de junho de 2003, quando outro militante petista, Paulo Antônio Bassoto, foi detido no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, por portar R$ 150 mil em dinheiro. Trindade viajava com Bassoto e carregava R$ 50 mil, mas não foi retido. Com a história contada por Trindade ontem, o PT gaúcho fechou sua versão para os saques que apareceram nas relações apresentadas por Marcos Valério à Procuradoria-Geral da República e à CPI do Mensalão. Segundo o presidente estadual do partido, David Stival, os saques foram de R$ 1,05 milhão e não de R$ 1,2 milhão, conforme o empresário havia declarado, porque os R$ 150 mil que Bassoto carregava eram destinados à Gráfica Comunicação Impressa por serviços prestados à SMPB.

Do dinheiro que o PT admite ter recebido, R$ 150 mil, em dois cheques de R$ 75 mil, foram transportados pelo ex-tesoureiro Marcelino Pies e entregues às gráficas Impresul e Comunicação Impressa, fornecedoras do partido. Os outros R$ 900 mil foram buscados por Trindade, sendo R$ 50 mil na viagem de avião e outros R$ 850 mil em deslocamentos de ônibus, em julho, setembro e outubro de 2003.

Trindade disse que, apesar de não ser integrante da direção estadual do PT, foi a Belo Horizonte cumprindo tarefa partidária determinada por Stival e Pies. "Perguntei qual era a natureza do dinheiro e fui informado que eram recursos disponibilizados pelo Diretório Nacional naquela empresa (a SMPB)." Ele disse que recebeu os valores da diretora financeira Simone Vasconcelos e não conheceu Valério.

O engenheiro também não deu pistas do destino dos recursos. "Minha tarefa era pegar. Não perguntei o que fariam com o dinheiro."