Título: Discurso foi insuficiente, mas outros virão, afirma Tarso
Autor: Fabiana Cimieri, Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Nacional, p. A10

Presidente do PT diz que pronunciamento de Lula foi o primeiro de uma série sobre a crise política

O presidente nacional do PT, Tarso Genro, classificou o discurso de ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "insuficiente", mas disse que esse deve ser apenas o primeiro de uma série de pronunciamentos sobre a crise política. "A oposição quer mais destruir o PT do que derrubar o presidente", afirmou. Um exemplo disso, disse Genro, é que as primeiras medidas técnicas não foram contra o governo, mas contra o PT. "Eles estão mais preocupados em neutralizar essa notável experiência de organização das classes médias e dos movimentos sociais que hoje é o principal partido político do País", disse ele, acrescentando que uma eventual cassação do registro do partido seria uma "brutalidade".

Na direção do partido, o pronunciamento de Lula foi entendido como um recado claro para que o ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu, se afaste do PT e destrave a depuração interna da legenda. "Agora compete ao comando do PT fazer sua limpeza", afirmou um integrante da Executiva do partido. A esquerda petista vai mais longe. Parte dela questiona a legitimidade do atual presidente, Tarso Genro, para conduzir a transição até o processo de eleição interna (PED), marcado para setembro. O secretário de Formação Política do PT, Joaquim Soriano, pediu abertamente a cabeça de Dirceu. "Tem que ter um ambiente petista de alta legitimidade onde o José Dirceu não mande", afirmou Soriano para justificar a convocação de um ato simbólico de refundação do partido no Colégio Sion.

"A direção atual colocou o PT numa situação catastrófica porque não agiu quando deveria", afirmou o terceiro vice-presidente do partido, Valter Pomar, referindo-se à última reunião do Diretório, onde várias propostas "moralizadoras" que até tinham o apoio de Tarso foram derrubadas.

Será reapresentada na próxima reunião da Executiva da legenda, na terça-feira, em Brasília, proposta para suspender sumariamente parlamentares e dirigentes envolvidos no uso de caixa 2. Pelo menos 15 já enviaram suas defesas por escrito para a Executiva. Na terça-feira, a Comissão de Ética da sigla ouve o depoimento do ex-tesoureiro Delúbio Soares. "A partir da informação dele, a Comissão de Ética e os desdobramentos relacionados a outras pessoas virão normalmente", afirmou o secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini. Apenas o caso de Delúbio é analisado hoje na Comissão. Aliás, a pedido do próprio tesoureiro.

"Se o PT não mostrar que quer apurar para valer vai se perder ladeira abaixo", insistiu Pomar, que defende a criação de uma comissão de sindicância interna para avaliar todos os casos de parlamentares e dirigentes sob suspeição.

O confronto de forças internas deve esquentar hoje, durante debate das chapas inscritas para disputar o Diretório Nacional, em São Paulo. Todos os candidatos a presidente do PT, menos Tarso, estarão lá.

Questionado ontem se a reeleição do presidente Lula estaria comprometida nessa altura da crise, Tarso disse que o partido está na "defensiva" e numa situação "incômoda para falar no assunto". De manhã, ele reuniu-se com as bancadas estadual e federal do PT no Rio. Disse aos militantes não ter idéia do que vem pela frente. E fez um apelo para que ninguém deixe o partido.