Título: Oposição acha natural 'virada' de Serra
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - Os parlamentares da oposição receberam sem surpresa o resultado da pesquisa Datafolha que mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva derrotado em segundo turno, numa eventual disputa contra seu rival tucano, o prefeito de São Paulo, José Serra. Em 2002, com 52,79 milhões de votos, Lula venceu Serra com ampla vantagem. Já a pesquisa Datafolha divulgada ontem mostra - pela primeira vez desde que a candidatura de Lula decolou, em meados de 2002 - que Serra derrotaria o presidente por nove pontos de vantagem (48% a 39%). Para o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), o que surpreende é a rapidez com que caiu por terra o prognóstico de que o presidente seria imbatível na disputa pela reeleição. Virgílio lembra que a pesquisa foi feita antes de o publicitário Duda Mendonça depor na CPI e antes de o ex-deputado Valdemar Costa (PL-SP) declarar que Lula conhecia o esquema de corrupção no governo.

"Sabemos há tempos que a reeleição do presidente é inviável", afirmou Virgílio. "Só ele não tinha ainda se dado conta da situação provocada pela corrupção, a crise ética e a demagogia'. O líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP), acredita que, além de refletir a crise dentro do governo e do PT, o resultado da pesquisa levou em conta o desgaste, os "estragos' provocados na opinião pública pelos "discursos estapafúrdios em que o presidente afirma, entre outras tolices, que os brasileiros vão ter de engolir ele e seu governo por mais um mandato". Na avaliação do líder, "os eleitores entenderam que se tratava de uma demonstração de arrogância de quem não está vendo o quadro político que nós estamos vendo".

Goldman diz que seu partido já esperava resultados como o que foi apontado pelo Datafolha. "Porém, não tão rápido assim. Foi surpreendente", comentou. "E a tendência é que, com o agravamento da crise, o número de pessoas que votaria nele diminua cada vez mais, é natural isso", analisou. O líder do PSDB na Câmara vai mais além e diz que se a pesquisa fosse feita após o discurso de ontem do presidente Lula talvez a diferença em favor de José Serra fosse até maior. "Ele não se defendeu e não explicou nada do que se esperava."

Um dos apontados como possível candidato à presidência, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), vê na pesquisa o melhor indício da "queda de confiança do povo brasileiro" no atual governo. Evitou, no entanto, se aprofundar no tema das eleições do ano que vem. "Em relação à campanha esse não é o momento de se discutir candidatura, o que só deverá ser feito em 2006, e falta muito tempo."

Para o líder do PFL, senador José Agripino (RN), o que ocorre agora é que "as denúncias de corrupção romperam a blindagem que protegia Lula'. O presidente, prossegue ele, "pagou o preço do autismo de pensar que ficaria de fora da roubalheira. O teflon que o protegia se acabou". Agripino entende que a pesquisa mostra a perda de popularidade do presidente também entre as classes D e Z, a exemplo do que supõe que tenha ocorrido com os eleitores melhor situados socialmente. "É só chegar no interior e checar. Em todos os lugares todo mundo sabe dos episódios do cuecão, do mensalão e de outros esquemas patrocinados pelo PT", afirmou.

BOLA DE CRISTAL

A vice-líder do governo, senadora Ideli Salvatti (SC), acredita que a previsão favorável aos tucanos pode ampliar a crise interna dentro do partido, entre os prováveis candidatos à presidência, e com isso dificultar o papel que a oposição deve assumir diante da crise. Ela disse não saber se o presidente Lula conseguirá recuperar o apoio da sociedade. "Minha bola de cristal trincou na segunda-feira, se esfarelou na quinta-feira e hoje (sexta-feira) eu botei ela no lixo", justificou. Já o líder do PMDB, senador Ney Suassuna (PB), atribui o quadro à demora do governo em se defender. "Estava tudo meio paralisado e o povo elege o presidente para ele trabalhar, para fazer o que o País necessita, e não para ficar ouvindo denúncias de toda natureza", argumenta o senador paraibano.

Suassuna diz que não se sente em condições de dar conselhos ao presidente da República, mas que, se fosse o caso, pediria a Lula que parasse com os discursos e ouvisse mais o que o povo deseja, por meio dos representantes que elegeu. "Diria mais. Que ele, presidente, mantenha um olho na estrada, a mão no volante e o outro olho no Congresso"