Título: Oposicionistas vêem um Lula 'medroso' e 'autista'
Autor: Gilse Guedes, Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2005, Nacional, p. A6

Discurso do presidente não conseguiu acalmar a oposição; com ânimos acirrados, políticos apontaram farsa,mas poucos voltaram a falar em impeachment

BRASÍLIA - O pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não serviu para acalmar a oposição no Congresso. Ao contrário, os ânimos ficaram mais acirrados. Em meio ao pessimismo, alguns políticos voltaram a falar em pedido de abertura de impeachment de Lula. Minutos depois do fim do discurso, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), chegou a dizer que viu, pela televisão, um presidente "medroso" e "acoelhado" encenando a "farsa do 'não sei de nada'". "O pronunciamento foi pífio", afirmou. "Se vossa excelência não tem dado trégua a corruptos, se vossa excelência está indignado, desculpas por quê, presidente? Será que vossa excelência deve mesmo pedir desculpas à Nação? Ou será que o senhor está pedindo desculpas à Nação de maneira indevida? Ou, se o senhor está pedindo desculpas à Nação, o senhor o teria feito de maneira incompleta", disparou o líder do PSDB em discurso da tribuna do Senado.

Para o tucano, o pedido de desculpas "fazia parte do script". "Não valeria a peça, não valeria a encenação se ele não pedisse desculpas."

Virgílio disse ter esperado que o presidente nominasse os "traidores". "O presidente se diz traído. Traído por quem, presidente? Por que sonegou à Nação o nome dos traidores? Por que se mantém, portanto, misturado com eles, já que não os denuncia?", questionou.

Ele avalia que Lula fez uma "prestação de contas falsa" e repetiu a "a lengalenga" sobre as ações da Polícia Federal. "Era o que eu temia."

Virgílio afirmou que faltou "sinceridade" do presidente. Era preciso, de acordo com ele, que o presidente mostrasse "que uma quadrilha tem funcionado no seu partido contra a maioria esmagadora de petistas honrados". Segundo o tucano, a crise se agrava e, a cada dia, a oposição é surpreendida com fatos que minam a credibilidade do governo. Para Virgílio, o momento é "mil vezes mais grave" do que a crise de 1954 - que culminou no suicídio do presidente Getúlio Vargas - e naquela que "ceifou" o mandato de Fernando Collor de Mello. A diferença agora, de acordo com o senador, é que Lula se sustenta numa base parlamentar um pouco menos frágil.

Ele garantiu, no entanto, que o PSDB não será irresponsável, como foi o PT na oposição, de pedir a abertura de impeachment de Lula sem provas de prática de crime de responsabilidade. "Não trataremos como uma ida a uma sorveteria algo grave como um impeachment."

Já para o líder o PFL no Senado, José Agripino (RN), a "postura autista" de Lula poderá levá-lo a ser alvo de um processo de impeachment. "Lula continua com postura autista. Deu mais um passo para o fim da linha e, se não adotar nenhuma outra providência, e se houver constatação de crime eleitoral, terá mesmo de passar por um processo de impeachment", afirmou o pefelista.

Integrante da CPI dos Correios, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) disse que "não basta" Lula se mostrar indignado com os fatos. "Tem de tomar atitudes. Essa declaração do presidente cairia bem há 20 dias. Esperava mais do pronunciamento. Lula tem de dizer quem o traiu." Embora tenha elogiado a "coragem" do presidente durante o discurso, o senador do PMDB Luiz Otávio (PA) disse que o que "todos querem saber é sobre sua participação ou não no episódio".