Título: Doleiro revelará tudo, diz advogado
Autor: Evandro Fadel
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2005, Nacional, p. A11

CURITIBA - O que deveria ser apenas um ato normal nas investigações de contas CC-5 (de não-residentes no País) - o depoimento do doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, hoje à tarde, ao Ministério Público Federal, em Curitiba - ganhou contornos políticos. A expectativa é que ele indique provas do envolvimento de políticos do PT em negócios com dólares, conforme prometeu, no depoimento informal que prestou a parlamentares da CPI dos Correios terça-feira, no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em São Paulo. O depoimento de Toninho em Curitiba foi pedido por seus advogados e, nele, o doleiro pretende negociar com os procuradores o benefício da delação premiada em um novo processo a que responde na capital paranaense. Na fase de investigação o MPF tentou propor o mecanismo, em troca da colaboração de Toninho no novo processo, mas ele não aceitou. Agora, interessado em reduzir sua pena, foi ele quem acenou ao MPF.

O entendimento dos procuradores federais é que, no depoimento informal prestado terça-feira, o doleiro fez apenas insinuações envolvendo políticos petistas, mas não apresentou nenhuma evidência ou prova definitiva. Ontem, na CPI dos Correios, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares foi categórico ao responder às acusações de Toninho, afirmando que, nos cinco anos em que teve cargo na direção do PT, o partido "nunca mandou dinheiro para fora e nunca recebeu dinheiro de fora". "E acredito que antes disso também não", registrou. Ele garantiu não conhecer o doleiro.

ESCÂNDALO

A preocupação da força-tarefa do MPF é que o depoimento de Toninho ajude na apuração do esquema de evasão de divisas feito inicialmente por meio da agência do Banestado em Nova York e, posteriormente, com a utilização de outros canais irregulares. Mas os procuradores têm expectativa de que também venha à tona a versão política do esquema indicado pelo doleiro na terça-feira.

No primeiro momento, o depoimento de Toninho, na terça-feira, excitou os parlamentares. Mas no dia seguinte, já em Brasília, todos os partidos se aproximaram da conclusão de que Toninho tinha jogado uma isca para a CPI, na tentativa de conseguir uma promessa de redução de pena. Ontem, seus advogados disseram que os parlamentares interpretaram equivocadamente a proposta feita por Toninho.

O advogado Erick Vidigal disse que Toninho não condicionou a apresentação de provas a uma redução de pena. "O que ele disse é que só faria as revelações depois da reunião com os procuradores, em Curitiba, quando pedirá o benefício da delação premiada e se oferecerá para colaborar em troca da redução de pena", informou. Segundo Erick, se for à CPI "Toninho vai falar tudo, sem qualquer restrição e sem qualquer ressalva". Ele explicou que Toninho apenas pediu aos parlamentares para ir à CPI depois da reunião de Curitiba para ter o que oferecer ao MPF.

Erick relatou que a defesa de Toninho está empenhada, no momento, em anular os dois últimos julgamentos do doleiro, alegando que ele foi condenado três vezes pelo mesmo crime. "Quando isso acontece, garante a jurisprudência do STF, o réu só cumpre a pena do primeiro julgamento", disse.

Em plena campanha para aliviar a dureza do regime penitenciário de Toninho, ele afirmou também que as condenações do doleiro estão em fase de recurso e ele deveria estar recorrendo em liberdade, pois "não é um réu violento, nem poderá voltar a operar na área financeira, por motivos óbvios".

Um dos principais operadores no mercado de câmbio paralelo, por meio da empresa Barcelona Tur, Toninho da Barcelona é acusado de ter movimentado ilegalmente pelo menos US$ 191,69 milhões na conta Lisco e US$ 5,26 milhões na Miro, ambas na conta-ônibus Beacon Hill, do J.P. Chase Morgan, em Nova York, entre 1997 e 1999.

Ele também abriu várias contas em nome de "laranjas" no Brasil. Em razão das investigações sobre lavagem de dinheiro, o doleiro recebeu as três condenações que, juntas, somam 25 anos de reclusão. Atualmente ele cumpre a pena na penitenciária de Avaré, no interior de São Paulo. A delação premiada é um dispositivo jurídico que permite possível redução da pena ao acusado que cooperar na investigação.