Título: CPI do Mensalão vai convocar 10 deputados acusados de sacar dinheiro
Autor: Gilse Guedes e Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Nacional, p. A12

BRASÍLIA - A CPI do Mensalão aprovou ontem a convocação de 10 deputados acusados de sacar dinheiro de contas de empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza na agência do Banco Rural do Brasília Shopping. Cinco são do PT: Paulo Rocha (PE), João Magno (MG), Professor Luizinho (SP), Josias Gomes da Silva (BA) e João Paulo Cunha (SP). Os demais são Romeu Ferreira Queiroz (PTB-MG), Vadão Gomes (PP-SP), José Borba (PMDB-PR), Carlos Rodrigues (PL-RJ) e Armando Costa (PMDB-MG). Também foi aprovada a convocação - para esclarecimentos - de todos os demais sacadores, muitos deles funcionários de parlamentares e dirigentes e ex-dirigentes de partido, como o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-secretário-geral petista Sílvio Pereira. Faz parte da relação o irmão do ex-presidente do PT José Genoino, o deputado estadual do Ceará José Guimarães Nobre (PT).

Segundo o relator, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), as datas dos depoimentos ainda não foram marcadas, porque, segundo a metodologia de investigação fixada pela CPI, as pessoas que forem convocadas vão, inicialmente, enviar por escrito suas defesas. Depois, caso elas sejam consideradas insuficientes, terão de depor.

A comissão decidiu chamar ainda o representante legal da empresa Guaranhuns Empreendimentos, José Carlos Batista, e João Cláudio de Carvalho Genu, ex-chefe de gabinete do deputado José Janene (PP-PR). Ambos devem depor nesta semana. O presidente da CPI Amir Lando (PMDB-RO) disse que os presidentes dos fundos de pensão da Caixa Econômica, da Petrobrás e do Banco do Brasil também vão prestar depoimento, mas as datas ainda não foram definidas.

NA ESPERA

O inquérito da Polícia Federal sobre o mensalão, por seu lado, está paralisado há 12 dias porque o Supremo Tribunal Federal (STF) ainda não decidiu se dá o prazo de mais um mês para a conclusão das investigações. A PF pediu a prorrogação no dia 11. "Estamos de mãos atadas", reclamou um delegado que atua no caso, contando que a demora na resposta está impedindo diligências, a investigação da conexão internacional do esquema montado pelo empresário Marcos Valério e os depoimentos de mais de 40 acusados, entre os quais 12 parlamentares.

Aberto em junho, após denúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que deputados estariam recebendo mesada em troca de apoio ao governo, o inquérito foi transferido para a Justiça Federal de Minas Gerais, por conta da apreensão de notas fiscais de empresas de Valério que estavam sendo incineradas naquele Estado. Quando foi constado que havia deputados na lista de sacadores de Valério, a investigação foi transferida para o STF, foro privilegiado para processar parlamentares.

O STF levou duas semanas para decidir, em meio à pressão da CPI dos Correios e críticas da oposição à demora. Mesmo assim, deu só 15 dias para a PF realizar todas as diligências necessárias. Findo o prazo, e sem ter terminado os mais de 70 depoimentos e o cruzamento dos dados da quebra de sigilo de dezenas de pessoas e empresas, a polícia pediu a prorrogação e espera a resposta.