Título: Polícia Civil retoma caso Santo André
Autor: Bruno Paes Manso e Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2005, Nacional, p. A8

A Polícia de São Paulo vai ajudar o Ministério Público nas investigações sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, morto em janeiro de 2002. A decisão foi anunciada ontem, depois de reunião de duas horas na Secretaria de Segurança Pública, que contou com a participação do secretário Saulo de Castro Abreu Filho, dos promotores que investigam o caso, Amaro Thomé e Roberto Wider, e de familiares do prefeito. "O secretário atendeu o pedido da família, que acredita existirem indícios suficientes para novas frentes de investigação", afirmou o irmão do prefeito, Bruno Daniel, presente na reunião com seu irmão, João Francisco Daniel. Em maio deste ano, novos indícios levaram o Ministério Público a pedir a reabertura do inquérito que investiga a morte de Daniel. Em maio, a família do prefeito mostrou aos promotores um dossiê que apontava um suposto esquema de corrupção em Santo André. O documento estava no apartamento de Daniel e havia sido entregue a ele por Gilberto Carvalho, quando era secretário de Comunicação de Santo André. "Isso confirma nossas suspeitas de que o prefeito morreu a mando de uma quadrilha criminosa estável, que desviava dinheiro da corrupção para os cofres do PT", afirma Thomé. Além do documento, dois novos testemunhos, tomados no primeiro semestre, reforçaram a desconfiança dos promotores. Em um deles, dado por um "réu colaborador", cuja identidade é mantida em sigilo, foi dito que que o seqüestro do prefeito teve a participação de um terceiro carro, um Santana branco, que não constava nas primeiras versões. Em outro, o detento José Márcio Felício, o Geléião, ex-comandante do PCC, revelou ter ouvido de um homem conhecido como Mi e de Ivan Rodrigues da Silva, Monstro, um dos participantes do seqüestro, a informação de que o assassinato do prefeito foi encomendado. "Aguardávamos a ajuda da polícia, para localizar todos os mandantes e participantes", disse Thomé. Os policiais que invetsigaram o caso negam que Monstro tivesse entre seus parceiros um homem conhecido como Mi. Ivan nega o crime de mando e diz que foi um crime comum.

Segundo o promotor, o pagamento do escritório de advocacia de Aristides Junqueira, feito por meio das contas do publicitário Marcos Valério Souza, evidenciou o interesse do PT em dificultar as investigações. "São fatos que reforçam a suspeita de crime político", disse.

TONINHO DA BARCELONA

Na terça-feira, o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, em depoimento à CPI dos Correios, afirmou que conhece os doleiros que participaram das operações com empresários e políticos em Santo André. Disse também que daria mais detalhes depois de negociar uma delação premiada. Dois delegados que acompanharam o doleiro, contudo, disseram ao Estado que, apesar de reconhecer a existência de um esquema de corrupção em Santo André, Barcelona disse saber que o assassinato foi "um crime comum". O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) negou que Barcelona tenha dito isso à CPI, mas confirma que delegados tiveram a chance de falar sozinho com o depoente.

Entre os delegados que investigaram o assassinato, a decisão do secretário de Segurança causou mal-estar . Ao contrário do Ministério Público, que acredita na versão defendida pela família do prefeito, de crime político, os policiais defendem a tese de crime comum. "Não paramos de acompanhar as novidades, e continamos defendendo essa tese", disse um delegado, que pediu para não ser identificado. Ele desqualificou os depoimentos de Geléião e dos presos que sustentam a versão de crime político. "Ailton Feitosa, que disse saber que o crime foi de mando, pertence a uma facção rival do PCC de Geleião e de Monstro", contesta o delegado. "Isso não cola. Sapo não anda com cobra".