Título: Petróleo ainda é o grande vilão da balança comercial do País
Autor: Alaor Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Economia & Negócios, p. B5

Saldo do setor foi negativo em mais de US$ 5,5 bilhões nos 12 meses até junho

RIO - O petróleo continua o grande vilão da balança comercial, apesar de a Petrobrás ter aumentado a produção e registrado saldo positivo nas atividades de exportação e importação de petróleo e derivados na primeira metade do ano. Considerando as compras de outras empresas, especialmente de nafta pelas centrais petroquímicas, a balança comercial do setor ainda foi negativa em mais de US$ 5,5 bilhões nos 12 meses encerrados em junho, conforme dados da Secretária de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, consolidados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Esse total representa acréscimo de 91% ante os 12 meses anteriores. Ao todo, pelos dados da ANP, o País exportou o equivalente a US$ 2,39 bilhões de óleo bruto nos 12 meses encerrados em junho, além de US$ 2,297 bilhões de derivados, elevando o acumulado no período para US$ 6,982 bilhões. Nesse mesmo período, as importações de óleo cru totalizaram US$ 4,676 bilhões e outros US$ 3,184 bilhões de derivados, no total de US$ 10,248 bilhões.

Os dados da Secex mostram que, em termos agregados, apenas máquinas e equipamentos superam as compras de petróleo no exterior. O forte aumento dos preços da nafta, utilizado na petroquímica, foi o principal fator do grande aumento no período, pelos dados da ANP.

O aumento da produção de petróleo da Petrobrás deve dar outra contribuição substancial para a balança comercial de 2006. Em apresentação para analistas de investimentos, na terça-feira, o gerente de Exploração e Produção da estatal, José Luiz Marcusso, previu que a produção média de 2006 será em torno de 1,9 milhão de barris diários. Isso significa um adicional de 200 mil barris diários em relação à produção deste ano, estimado em 1,7 milhão de barris.

Se os preços ficarem como estão (em torno de US$ 53, na média de outubro, que considera os contratos de longo prazo), isso indica um alívio próximo de US$ 4 bilhões na balança comercial em 2006. Se a referência for o ano de 2004, o acréscimo na produção diária ficará em torno de 400 mil barris, cerca de US$ 8 bilhões menos na balança comercial, em termos anuais.

O aumento da produção foi parcialmente prejudicado por um efeito perverso do mercado, com o aumento da diferença de preços entre o produto importado em relação aos preços do exportado. O petróleo extraído no Brasil é do tipo pesado, enquanto o maior volume negociado no mercado mundial é o leve, como o extraído no Oriente Médio. Como a maioria das refinarias dos grandes países consumidores está projetada para o óleo leve, o produto acaba sendo mais procurado e tendo maior valor. O Brasil está pagando, proporcionalmente, mais caro pelo óleo importado do que está recebendo pelo exportado.

Conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, em junho de 2004 o Brasil pagou, em média US$ 40,99 por barril, enquanto o exportado saiu por US$ 29,39, uma diferença de US$ 11,58. Em junho deste ano, o preço médio do barril importado subiu para US$ 15,22. Essa diferença de US$ 3,62 por barril, considerando a produção média de 1,7 milhão de barris diários, soma perto de US$ 2,2 bilhões ao longo de um ano.