Título: Buratti diz que Palocci recebia propina de R$ 50 mil em Ribeirão
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Nacional, p. A4

O advogado Rogério Tadeu Buratti denunciou ontem seu ex-chefe, o ministro Antonio Palocci (Fazenda), a quem acusou de receber R$ 50 mil por mês de um esquema de propinas na prefeitura de Ribeirão Preto. Em busca do benefício da delação premiada - redução de pena judicial em troca de informações -, Buratti depôs na Delegacia Seccional de Polícia de Ribeirão perante um grupo de promotores do Ministério Público Estadual que investiga fraudes em licitações do lixo e lavagem de dinheiro. "Na execução do serviço sempre havia uma contribuição financeira mensal que a empresa dava ao prefeito, girando em torno de R$ 50 mil", declarou o advogado, que à tarde foi contemplado com um prêmio - foi posto em liberdade, após duas noites na prisão. Buratti não apresentou nenhum documento que prove as denúncias e atribuiu a um morto, Ralf Barquete - ex-secretário da Fazenda de Palocci -, a maior parte das situações que apontou. O promotor Aroldo Costa Filho confirmou que entre os papéis apreendidos pelo Ministério Público não existem provas contra o ministro e que o caso será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Palocci foi prefeito duas vezes de Ribeirão, no interior de São Paulo. A primeira foi de 1993 a 1997. A segunda começou em 2001, mas Palocci deixou o cargo no ano seguinte para assumir a coordenação da campanha de Lula à Presidência. Buratti foi secretário municipal de Governo e assessor especial de Palocci durante seu primeiro mandato. Em 1999, tornou-se diretor da empresa Leão Leão, que domina a maior fatia dos contratos de lixo e outros serviços em oito prefeituras da região de Ribeirão. Ficou na empresa até março de 2004.

"Na época do prefeito Palocci esse dinheiro era entregue ao secretário da Fazenda Ralf Barquete (falecido)", denunciou Buratti. "Pela amizade que eu tinha com o Ralf, sei que ele repassava o dinheiro ao diretório nacional do PT, com autorização do prefeito Palocci. O tesoureiro do PT era o Delúbio e pelo que sei o dinheiro era entregue a ele. Esse dinheiro foi pago mensalmente durante toda a gestão do prefeito Palocci."

Buratti afirmou que foi Palocci quem indicou Ralf à empreiteira Leão Leão para fazer a coleta. "O Ralf apanhava o dinheiro na tesouraria da empresa, com o gerente financeiro", delatou. "A Leão Leão apoiou financeiramente a campanha de Palocci à prefeitura. O valor oficial foi de R$ 150 mil." Os R$ 50 mil mensais, disse o advogado, eram vinculados a um contrato de coleta de lixo e de varrição. O esquema teria prevalecido na gestão de Gilberto Maggioni, sucessor de Palocci.

Buratti foi interrogado em dois inquéritos e seu relato, que preenche 9 páginas, filmado e gravado pela promotoria. O primeiro inquérito trata de corrupção em concorrências em Ribeirão e cidades vizinhas. Em Sertãozinho, ele acusou, a Leão Leão destinava 12% do faturamento ao gabinete do prefeito. A propina era de 15% em Matão. Em Monte Alto, de 5% a 15%.

CERCO

O outro inquérito investiga a evolução patrimonial do acusador. Ele adquiriu fazendas e outros bens que estão sob suspeita dos promotores Aroldo Costa Filho e Sebastião Sérgio da Silveira. Disse ter comprado os imóveis com recursos da empreiteira, mas há vestígios de que ele usou dinheiro recebido por fora - não declarado. Os promotores localizaram um compromisso de compra-e-venda no valor de R$ 2,6 milhões, com os quais ele pagou uma fazenda em Buritizeiro (MG).

O cerco a Buratti começou a se fechar em 2004, quando o MP monitorou - com autorização judicial - seus telefonemas. Numa conversa, Buratti se empenha em destruir provas, o que levou à prisão temporária. A interceptação revela que Buratti mantinha freqüentes contatos com Palocci, já ministro.

Buratti citou a ex-prefeita Marta Suplicy e doações do jogo para a campanha de Lula à Presidência, em 2002.

"As empresas colaboraram nas eleições. Em São Paulo, no tocante a licitações do lixo, havia um acordo no mercado entre as grandes empresas. A prefeita era Marta Suplicy. Em algumas cidades onde a Leão tinha contratos, havia apoio da administração na licitação." Sobre os bingos, disse ter "conhecimento de que houve duas contribuições em 2002 para a campanha de Lula." Seu advogado, o criminalista Roberto Telhada, não assistiu ao depoimento. Não aceitou a forma como foi negociada a delação. Para Telhada, seu cliente "sofreu forte pressão".