Título: Papa faz visita histórica a sinagoga
Autor: Ulisses Iarochinski
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2005, Vida&, p. A27

COLÔNIA - A sexta-feira não foi bem o que a juventude mundial estava esperando de Colônia para este dia. Abandonada pelo papa, que cumpriu um extenso programa diplomático, ela zanzou pelas duas margens do Rio Reno. A manhã foi de sol de 30 graus, mas, à tarde, uma forte chuva deixou todos muito molhados. O papa Bento XVI, pela manhã, esteve em Bonn, na residência de Hammerschmidt, onde foi recebido pelo presidente da República Federal da Alemanha, Horst K¿hler, e sua mulher, Eva Luise K¿hler. Na ex-capital alemã, o papa trabalhou muitos anos como professor de teologia. Depois de conversar mais de uma hora com K¿hler, saudou os funcionários e cruzou o jardim, onde cumprimentou um grupo de crianças com apertos de mão. Voltou ao balcão da residência, de onde voltou a cumprimentar os peregrinos. Não foi divulgado o teor da conversa com o presidente alemão.

Depois ele voltou a Colônia, onde visitou a sinagoga da cidade. O ato, histórico nas relações judaico-católicas, é o segundo realizado por um bispo de Roma. João Paulo II tinha estado na sinagoga da capital italiana em 1986. A visita de ontem, entretanto, assumiu maior importância pelo fato de o papa ser justamente natural do país que durante o regime nazista executou milhões de judeus.

Com as palavras hebraicas "Schalom lêchém!", Bento XVI saudou os judeus, dizendo que sua intenção é "continuar o caminho da melhoria das relações e da amizade com o povo judeu".

Fazendo referência aos 60 anos de liberação dos campos de concentração nazista, ele citou as 7 mil vítimas judias da cidade de Colônia, durante a 2ª Guerra Mundial, e afirmou acreditar que o número foi muito maior.

O papa Bento XVI condenou com firmeza o nazismo. "No século 20, no tempo mais obscuro da história alemã e européia, uma ideologia racista e demencial de raiz neopagã, deu origem à tentativa, planejada e realizada sistematicamente pelo regime, de exterminar o judaísmo europeu", lembrou Bento XVI no discurso que fez diante dos líderes religiosos judeus de Colônia.

Ele advertiu também que, por "desgraça", surgem novos sinais de anti-semitismo. "Infelizmente estão aparecendo diversas formas de hostilidade generalizada na direção dos estrangeiros. Este é um motivo de preocupação. A Igreja se compromete com a tolerância, o respeito, a amizade e a paz entre todos os povos, culturas e religiões", disse o papa após condenar o nazismo.

O rabino chefe, Netanel Teitelbaum, expressou seu agradecimento ao papa pela visita, que classificou como um "sinal de esperança". Ele disse também que os judeus estendem a mão aos desejos de paz e encerrou seu discurso afirmando que "Israel espera a paz e diz paz".

SEMINÁRIO

Mais tarde, esteve na Igreja de São Pantaleão, num encontro com seminaristas. Ali manifestou que sua vontade era ressaltar de maneira mais explícita e vigorosa a dimensão vocacional que possuem sempre as Jornadas Mundiais da Juventude. "O seminário é um tempo destinado à formação e ao discernimento. A formação como bem sabeis possui várias dimensões e que convergem à unidade da pessoas", disse ao jovens seminaristas de Colônia.

E foi ali no seminário que o brasileiro Edson Arantes do Nascimento, marido da evangélica Assíria, foi recebido pelo papa. Pelé, que chegou a Colônia na quarta-feira, somente ontem conseguiu falar com Bento XVI.

REENCONTRO

A sexta-feira serviu para Joseph Ratzinger se encontrar com seu país, mais do que participar da 20ª Jornada Mundial da Juventude. "Ele precisa disso, da mesma forma como Karol Wojtyla fez na sua primeira viagem internacional como papa", afirmou Domenico Baresi, jornalista italiano de Bari, que diz ter acompanhado 30 viagens de João Paulo II.

O alemão Ratzinger volta a se encontrar hoje com autoridades de seu país natal. Pela manhã, tem audiência com o chanceler Gergard Schroder, com o presidente da Câmara Baixa, Wolfgang Thierse, com Angela Merkel, do partido CDU e outras autoridades de Colônia.

ANSIEDADE

Somente às 20h30 ele se reencontra com a juventude do mundo, que parece aguardar com ansiedade mais um momento com o novo papa. A maioria quer saber se realmente ele será um seguidor à altura de João Paulo II.

Pelas entupidas ruas de Colônia, os jovens do mundo inteiro ainda estão perdidos. Vieram cobrar uma orientação do líder da Igreja Católica Apostólica Romana. Durante os dias que antecederam a chegada de Bento XVI à Alemanha, em várias cidades, os jovens discutiram sobre aborto, drogas, vocações e, principalmente, a figura de Jesus Cristo. Por isso, a vigília de hoje para amanhã é o momento esperado para saber se realmente o papa alemão está com eles.