Título: Limão avança sobre os laranjais
Autor: Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2005, Economia & Negócios, p. B12

De olho nas exportações, que devem dobrar nesta safra, produtores do norte paulista preferem o limão-taiti à laranja

Do avião é possível perceber que a tradicional paisagem de pontos amarelos está mudando de cor nos campos do norte paulista. A região, que é maior produtora de laranja do País, começa a ceder espaço para o limão-taiti, chamado de "ouro verde" pelos agricultores locais. Desestimulados pelos altos custos de produção, pela queda da rentabilidade e baixo preço pago pela indústria de suco, eles substituem os extensos pomares de laranjas por plantações de limão. E isso não ocorre à toa: além de maior rentabilidade e menor custo de produção, o limão é mais resistente às pragas do que a laranja.

Mais do que no verde da fruta, os agricultores estão interessados na cor dos dólares: as exportações de limão, que praticamente dobraram nos últimos 3 anos, deverão crescer 10% em 2005. Na safra passada, dos R$ 270 milhões faturados pelos produtores com a venda de limões, cerca de R$ 45 milhões (US$ 18 milhões) vieram das exportações da fruta in natura.

No total, as exportações somaram US$ 26,5 milhões e representaram apenas 4% da produção nacional. Para este ano, a previsão é exportar 40,7 mil toneladas.

LUCRATIVIDADE

A pequena Itajobi, de 18 mil habitantes, é a maior produtora nacional. Em 2005, o município vai colher 4,6 milhões de caixas de 27,5 quilos.

Aos 70 anos, o sitiante Ernesto Stradioto não pensou duas vezes em determinar ao neto, José Wagner, 21 anos, que aumentasse em 5 alqueires a área de plantio. No local havia cana-de-açúcar, plantada há 3 anos para substituir os laranjais.

Foi com o limão que Ernesto conseguiu comprar trator, perfurar poço semi-artesiano e adquirir equipamentos de irrigação para o sítio Três Pontes, no bairro do Capão Grosso. Também foi com os lucros das plantações de limão que conseguiu suportar os prejuízos que teve com os laranjais.

"Em 2002, ele não agüentou e arrancou os pés de laranja e achou que a cana fosse a saída; hoje ele sabe que o limão é a melhor escolha", afirma José Wagner.

CRESCIMENTO

O Estado de São Paulo, que responde por 70% da produção nacional de limão, algo em torno de 700 mil toneladas, apresentou um crescimento de 5% no número de pés em produção entre 2003 e 2004. Nos últimos cinco anos, 3,8 milhões de pés foram plantados a mais. No ano passado, eram 7,7 milhões e no ano que vem o aumento deve ser de 5%.

Em contrapartida, a previsão é de que a safra de laranja encolha 3,6% na safra 2004/2005.

CAMPANHA NO EXTERIOR

Para Waldyr Promicia, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Limão (Abpel), o limão-taiti atrai porque os produtores têm mais e melhores alternativas de comercialização, tanto no mercado interno quanto no externo.

"Enquanto para a laranja eles têm apenas alguns grandes compradores, que ditam os preços do mercado, para o limão existem mais de 30 exportadores, além de um número incalculável de compradores no mercado interno", explica. "Além disso, o limão é fruta presente hoje em todas as mesas do mundo, desde um boteco de esquina a um famoso restaurante francês", acrescenta.

Segundo ele, enquanto a laranja atingiu o preço máximo de R$ 15 a caixa de 40,5 quilos no pico de entressafra, o limão teve preço de até R$ 80 a caixa de 27,5 quilos.

Dados da Abpel mostram que os agricultores brasileiros exportaram no ano passado 37 mil toneladas da fruta fresca, 92% disso para a Comunidade Européia, que consumiu no período 1,59 milhão de toneladas da fruta, a maior parte de limão da espécie siciliano, que, ao contrário do taiti, possui sementes e casca amarela.

"Nosso potencial é muito grande e a remuneração paga pela fruta no exterior é bem maior que no mercado interno. O valor exportado, embora tenha sido de apenas 4% da produção, representou um terço do faturamento com exportações", explicou.

Por isso, segundo ele, é que a Abpel iniciou na quinta-feira uma campanha de US$ 500 mil para divulgar o limão na Alemanha, Polônia e Portugal. A campanha é feita por meio de um trailer com sambistas, barman e caipirinhas. Depois de Berlim, o trailer segue para a Polônia e Portugal.

"O nosso objetivo é reforçar a estratégia de marketing visando a Copa do Mundo, pois a Alemanha é o maior comprador do limão brasileiro. Portugal vem em seguida", diz Promicia. Segundo ele, a Polônia foi escolhida porque é a porta de entrada do Leste Europeu, considerado hoje grande potencial futuro. "Sem campanha alguma conseguimos vender US$ 18 milhões, imagina depois de divulgarmos nosso produto."

O custo da campanha está sendo dividido entre a Abpel e a Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex).