Título: Negociação ocorre no próprio local do crime
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Há duas semanas, o caminhoneiro José Bispo Cerqueira e o ajudante Ademir Figueiredo foram abordados por três homens na Rodovia dos Bandeirantes, entre as cidades de Sumaré e Campinas, no interior de São Paulo. A região divide com a Grande São Paulo a incômoda disputa de líder em roubo de carga. - Me passe as notas, ordenou o líder do bando. Cerqueira, ligeiro, as entregou.

- São móveis, não vale a pena, concluiu o bandido. Para não perderem a abordagem, roubaram um celular e R$ 30 dos ocupantes da boléia.

Foi a segunda vez que Cerqueira enfrentou um assalto executado por quadrilha especializada em roubo de carga. A primeira ocorreu em São Paulo. O desfecho foi semelhante.

Há uma lógica empresarial no roubo de carga: a avaliação do risco e do retorno. Celular em punho, algumas ligações. Em poucos minutos, a carga ganha novo destino ou é descartada. A aritmética é rápida quando a interceptação é aleatória. Mas o avanço desse tipo de crime também ocorre pela sofisticação que ganha, também pode deter-se a planejamentos mais meticulosos.

A informação sobre cargas e rotas é preciosa e obtida de várias maneiras. Caminhoneiros e funcionários infiltrados em postos fiscais de controle na fronteira entre Estados são algumas formas.

"A fiscalização na fronteira é uma forma medieval de controle. As quadrilhas obtêm informações sobre o conteúdo e a rota. Alguém transmite a informação a uma quadrilha de tocaia a 20 quilômetros e pronto. Temos tentado acabar com esse tipo de fiscalização", revela Geraldo Vianna, presidente da Associação Nacional de Transporte e Logística (NTC).

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional ajudou, diz, mas a ação é de repressão e não prevenção. "Esse crime não teria essa dimensão, que provoca tantos prejuízos, se não houvesse uma rede de receptação muito bem organizada", afirma.