Título: Brinquedos no ritmo das tendências
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2005, Economia & Negócios, p. B10

O poder de sedução que o mundo da tecnologia exerce sobre o público infantil está alterando a programação de lançamentos das empresas de brinquedos. Entre as centenas de novidades que começam a chegar nas lojas a partir do próximo mês para o Dia das Criança e até o final do ano, uma boa parte estará voltada para as crianças menores, que ainda não batem o pé por um celular, uma câmara digital ou um computador. Fabricantes e importadores percebem que vender brinquedo para quem já passou dos oito anos, mas ainda não entrou na adolescência, está cada vez mais difícil. O mercado voltado para esta faixa etária não foi abandonado, é claro, mas a indústria tem procurado explorar nichos de maior potencial, como os pré-escolares ao mesmo tempo que investe cada vez mais em tecnologia para agradar os maiores.

A Gulliver, há 36 anos no mercado, este ano vai apostar mais na linha pré-escolar. Os brinquedos da marca francesa Smoby, parceira da Gulliver, com foco nos menores de seis anos, já representam 25% do faturamento da empresa, em torno de R$ 40 milhões. "Aumentamos em 30% o número de novidades para a idade de até quatro anos e há dois meses lançamos outra marca de importados, Cottons, para crianças de até 36 meses", diz o gerente nacional de vendas da Gulliver, Paulo Benzatti.

A Estrela relançou a coleção Pim Pam Pum no ano passado com a perspectiva que ela chegue a responder por 15% das vendas do mix de produtos. É esta a participação que as linhas da chamada primeira infância têm no mercado internacional. Hoje a Pim Pam Pum responde por cerca de 10% do total das vendas. "É um nicho estratégico porque nesta idade, que vai mais ou menos até seis anos, quem decide a compra são os pais. As mais velhas, na faixa de nove ou dez anos já são mais pressionadas para deixarem de ser crianças pelo grupo social que convivem", diz o diretor de marketing da Estrela, Aires José Leal Fernandes.

Na Grow, líder no mercado de jogos, os brinquedos pré-escolares, de madeira e produtos para bebê ganharam importância para a empresa nos últimos dois anos e representam de 15% a 20% das vendas. "Os jogos da Grow atingiam o público de até 12 ou 13 anos. Hoje nosso esforço está concentrado em crianças de até 10 anos e nesta faixa já disputamos espaço com tênis e roupas de grifes, relógios, celulares, computador e câmaras digitais", diz o gerente de produtos Gustavo Arruda.

Para atrair os meninos pré-adolescentes, a indústria tem investido em coleções que fazem sucesso como a linha da Gulliver Lendas, da Marvel, com super-heróis como Capitão América, Wolverine e Sr. Fantástico, entre outros. Jogos clássicos como War, da Grow, ainda vendem bem, mas os lançamentos nesta área têm sido mais cuidadosos e restritos. "Selecionamos muito as novidades e tentamos participar de eventos em shoppings para demonstrar o produto. A idéia é apresentar o jogo como uma degustação para despertar o interesse", diz Arruda. Para a Mattel, maior fabricante de brinquedos do mundo, o caminho para não perder público é a tecnologia."Temos investido mundialmente em produtos interativos para tentar manter a criança por mais tempo interessada em brinquedos", diz o presidente da empresa no Brasil, Alejandro Rivas.

Na lista de lançamentos da Mattel este ano está, por exemplo, uma câmera digital da Barbie. Mas Rivas acredita que aqui ainda há potencial para expansão em todas as faixas etárias. "Hoje, além da pirataria, o que pesa é a carga tributária. Os brinquedos no Brasil são duas vezes mais caros do que nos Estados Unidos," diz.

A Candide fecha o foco na tecnologia para todas as idades. "Tentamos trazer o que a criança aspira no mundo adulto para o seu universo", diz a gerente de marketing, Sharon Candi. Na linha de eletrônicos da empresa, o carro-chefe das vendas são os laptops da Xuxa e Hot Wheels, que representam 40% do faturamento da Candide. Mas a empresa aposta também para este ano em produtos como uma videofilmadora karaokê da Xuxa que é conectada à televisão e vem acompanhada de um walkman com fita de videocassete, fone de ouvido e microfone, permitindo que a criança grave uma cena ou se veja na tevê.

A Ri Happy, rede com 73 lojas, vendeu celulares numa parceria com a Nokia para o Dia das Crianças no ano passado e estuda repetir a dose. O presidente da rede, Ricardo Sayon, acredita no sucesso de produtos ligados ao mundo adulto, mas desde que sejam lúdicos. No mês que vem, ele começa a vender uma coleção de jóias de prata com desenhos de bichos. "É para conquistar a menina que já diz preferir mais um tênis do que um brinquedo."