Título: Relator pede cassação de Roberto Jefferson
Autor: Denise Madueño e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Nacional, p. A7

A estratégia de defesa dos deputados envolvidos no suposto esquema de mensalão provocou ontem uma mudança no parecer do deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), relator do pedido de cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Momentos antes da reunião do Conselho de Ética da Câmara, Carneiro elaborou uma complementação de voto para deixar claro que não pretendia negar a existência do chamado mensalão, mesmo que não houvesse provas de que deputados recebiam dinheiro por mês para votar a favor do governo, como denunciou Jefferson. "Vou reafirmar minhas posições de que há fatos graves e que ninguém pode escapar de responder ao processo. Não quero deixar dúvidas sobre isso", disse Carneiro. "Não quero entrar no mérito do conceito de mensalão, mas existe corrupção ampla, geral e irrestrita patrocinada por integrantes do Executivo, por personalidades do Legislativo, por partidos políticos, principalmente o PT, e por segmentos empresariais", continuou Carneiro.

Caso negasse a existência do mensalão, os deputados acusados de serem beneficiários do suposto esquema teriam argumentos para pedir a absolvição. Temendo dar armas para os acusados, parlamentares de oposição acenderam o sinal de alerta. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), o líder do partido na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), e o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA) procuraram o relator para evitar que sua parecer pudesse ser usado pela defesa dos deputados, incluindo de José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil, acusado por Jefferson de ser o chefe do suposto esquema de corrupção.

Após as conversas, o relator decidiu redigir uma complementação de votos para reafirmar que caberá às comissões parlamentares de inquérito dos Correios e do Mensalão mostrar as características e os contornos do esquema de corrupção, que o relatório afirma existir. De acordo com Carneiro, o parecer não alivia a situação de nenhum dos deputados acusados de participar do suposto esquema.

"Essa posição não cria nenhuma situação de bonança para quem quer que seja. Cada processo será um conjunto de provas", alertou Carneiro, ressaltando que as investigações de cada processo concluirão se o parlamentar recebeu ou não o mensalão. "Em uma situação ele pode não aparecer, mas em outra situação, sim", disse o relator. O conselho se reuniu ontem para a leitura do voto. A votação do parecer de Carneiro, no entanto, só deverá acontecer na próxima quinta-feira. Dentro da estratégia de adiar o julgamento de Jefferson, o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), anunciou que pediria vista do processo, prevista no regimento, por duas sessões da Câmara. Na reunião de ontem, os advogados de Jefferson, Itapuã de Messias e Luiz Francisco Barbosa, exigiram que Carneiro lesse novamente a primeira parte de seu parecer.

Na quinta-feira passada, quando o relator apresentou parte do parecer, eles não estavam presentes.