Título: Boas novas na economia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Notas e Informações, p. A3

Com mais uma demonstração de vigor, a economia brasileira voltou a desmentir as avaliações de empresários e economistas. Contrariando as estimativas pessimistas, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% entre o primeiro e o segundo trimestres. Foi a maior expansão trimestral desde abril do ano passado. Com esse desempenho, a economia brasileira acumulou de janeiro a junho um produto bruto 3,4% maior que o da primeira metade do ano passado. Quando se consideram períodos de 12 meses, o crescimento chega a 4,3%. Com os novos dados do IBGE, os economistas deverão refazer mais uma vez suas previsões para 2005, levando em conta o aumento da produção depois de um primeiro trimestre um tanto morno. Mas o crescimento do PIB, apesar de muito animador, pode nem ser a notícia mais alvissareira.

O dado mais importante talvez seja a expansão do investimento produtivo, de 4,5% de um trimestre para outro, graças, principalmente, às compras de máquinas e equipamentos destinados a indústrias. É uma evolução extraordinária, considerando-se a constante reclamação contra juros altos e dólar barato.

O pessimismo dos analistas foi alimentado em boa parte pelos números do primeiro trimestre, divulgados em maio. Esses números foram afetados, no entanto, pela quebra da safra de verão. As perdas ocorridas em culturas importantes, como a soja, afetaram direta e indiretamente as estatísticas. Tendo perdido parte de sua safra, os agricultores deixaram de comprar máquinas e implementos, diminuíram as compras de bens duráveis de consumo e atrasaram a aquisição de insumos para o plantio seguinte.

Sem dúvida, os empresários têm motivos ponderáveis para reclamar juros menores, crédito mais fácil e câmbio mais favorável a quem precisa enfrentar competidores. Mas, apesar das queixas, têm mostrado disposição para investir na expansão e na modernização da capacidade produtiva.

Além disso, têm procurado mais negócios tanto em mercados novos quanto naqueles tradicionais. A disposição de competir, hoje muito maior do que no começo dos anos 90, reflete-se tanto na evolução do comércio quanto no esforço para reequipar as indústrias.

As duas conseqüências são visíveis nos dados do IBGE. No segundo trimestre, o investimento, medido pela formação bruta de capital fixo, foi 4% maior que no período correspondente do ano anterior. Essa evolução foi determinada principalmente pela demanda de máquinas e equipamentos de uso industrial. Na mesma comparação, as exportações de bens e serviços foram 12,9% superiores às de um ano antes.

A indústria brasileira poderia exibir um desempenho melhor no comércio exterior, se tivesse maior acesso aos maiores mercados do Primeiro Mundo. Vários segmentos competitivos da indústria brasileira enfrentam barreiras nos Estados Unidos e na Europa. Eliminar essas barreiras seria provavelmente muito mais fácil, se o governo brasileiro pusesse maior empenho em negociações com esses mercados. Tanto as conversações do Mercosul com a União Européia quanto as discussões para formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) estão emperradas.

Também o consumo privado contribuiu para o crescimento do PIB e esse é um dado especialmente animador. No segundo trimestre, o consumo das famílias foi 3% maior que o do período abril-junho de 2004. A evolução positiva nesse tipo de comparação começou no último trimestre de 2003.

O orçamento dos consumidores foi reforçado, no segundo trimestre deste ano, pelo aumento do emprego e pela valorização do salário médio. Graças à combinação dos dois fatores, a massa de salários foi 3,6% maior que a de um ano antes.

A valorização do salário resultou não só da maior procura de mão-de-obra pelas empresas, mas também do êxito da política antiinflacionária. Reduzir a inflação é um dos meios mais seguros de elevar o salário real, fato freqüentemente esquecido até por economistas.

Até aqui, a crise política não produziu estragos importantes na economia. O maior entrave ao crescimento continua por conta do governo, com suas limitações gerenciais e sua voracidade tributária. Para não falar na sua acefalia.