Título: Alta do petróleo pode ajudar o Brasil
Autor: Alaor Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2005, Economia & Negócios, p. B6

Quanto mais elevados os preços do petróleo, melhor para a economia brasileira. A tese é de diretores da Petrobrás, que consideram que o momento atual é radicalmente diferente dos vividos pelo País em meados da década de 70 e fim dos anos 80, quando o combustível teve fortes aumentos de preços em curto espaço de tempo. "O Brasil está saindo da condição de importador para a situação inversa. A partir do ano que vem seremos exportadores líquidos e o preço alto será a nosso favor", argumenta o gerente de Relações com Investidores da Petrobrás, Raul Campos. Ele está convencido de que essa não será uma situação passageira e tende até a se acentuar nos próximos 5 a 10 anos.

Campos participou ontem de painel organizado pela revista Latin Finance sobre a estratégia da empresa, em conjunto com outros dirigentes da estatal. O gerente da área de exploração e produção José Luiz Marcusso enumerou os vários projetos em andamento na Petrobrás, que garantirão o aumento da produção dos atuais 1,7 milhão de barris diários para 2,3 milhões já em 2010.

Com isso, haverá uma sobra de 400 mil a 500 mil barris para exportações. A preços atuais, essa sobra garante receita de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões por ano. Este ano, a balança comercial do petróleo (incluindo derivados) custará ao Brasil de US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões líquidos (diferença entre exportações e importações), já que o Brasil é importador líquido.

Outro aspecto que dá vantagem ao Brasil é que o País é uma das poucas economias de grande porte que serão auto-suficientes. À exceção da Rússia, todas as grandes economias são dependentes do petróleo importado, como Estados Unidos, Japão, a Europa Ocidental (com exceção da Noruega) e a China, que saiu da condição de exportadora de 500 mil barris diários para importadora de 6 milhões de barris diários em menos de cinco anos.

Na América Latina, com as descobertas dos últimos anos, o Brasil só ficará atrás da Venezuela em reservas provadas. O país tem 79 bilhões de barris de reservas. As reservas do México caíram para 14,8 bilhões no fim de 2004 e têm sido declinantes, enquanto o Brasil já acumula 13 bilhões e está conseguindo ampliar o estoque, mesmo com aumento da produção, conforme dados da BP, uma das "majors" do petróleo.

Segundo o diretor financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, outro fator favorável é que a estatal conseguiu ampliar a produção desenvolvendo tecnologia para atuação em águas profundas e hoje é líder mundial no segmento.

As possibilidades de achar petróleo no Brasil ainda são muito grandes, diz Marcusso. Segundo ele, a Bacia de Campos, que hoje responde por cerca de 80% da produção nacional, ainda tem muito a ser explorada, o que permitirá a ampliação das reservas e da produção da empresa na região.

Além do desenvolvimento de tecnologia em exploração e produção, a estatal brasileira investiu pesado também na área de refino do petróleo. Ao adaptar as suas refinarias a esse óleo, a Petrobrás passou a ter vantagem adicional. "Nós estamos capturando esse diferença de preços (de até US$ 15 por barril) no processamento", explicou Alípio Ferreira, gerente de logística da empresa.

O plano de negócios 2006-10, aprovado no mês passado pelo Conselho de Administração, prevê investimentos de US$ 56,4 bilhões, o que dá quase US$ 11 bilhões por ano, sem que a empresa precise se endividar para tocar os empreendimentos. "Cada US$ 5 por barril na cotação do petróleo representa uma geração de caixa adicional (lucro bruto) equivalente a US$ 2,5 bilhões por ano", calcula Barbassa.