Título: Rainha racha MST com ato pró-Dirceu
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2005, Nacional, p. A13
MIRANTE DO PARANAPANEMA - [TEXTO]O líder do Movimento dos Sem-Terra (MST), José Rainha Júnior, reuniu ontem 1.200 acampados e assentados no Pontal do Paranapanema, extremo oeste de São Paulo, em ato de desagravo ao ex-ministro José Dirceu e outras lideranças do PT envolvidas em denúncias de formação de caixa 2 no partido. A manifestação ocorreu à revelia das direções estadual e nacional do movimento, que ainda não tinham tomado posição oficialmente ante a crise política no governo. Rainha prometeu liderar invasões no fim deste mês para ¿mostrar ao latifúndio¿ que, apesar da crise, o governo vai fazer a reforma agrária. O evento expôs um racha no MST, dividido entre se afastar do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que não cumpriu as metas da reforma agrária, ou ir às ruas na defesa do PT e do presidente. ¿Nós ajudamos a construir o PT e muitos da direção nacional são filiados ao partido¿, disse Rainha. ¿Estar do lado deles é lealdade.¿ Os grupos ligados a Rainha, que controlam 7 dos 9 acampamentos do Pontal e têm a maioria dos assentamentos, assinaram uma carta de apoio que será endereçada a Lula. ¿Saiba que você não está só, que estamos alertas e em luta constante para defendê-lo¿, diz a carta, lida durante a manifestação.
Também foi lido um manifesto do MST em defesa do ¿companheiro de lutas¿ deputado José Dirceu. O texto lembrava a trajetória do revolucionário que as elites políticas colocaram ¿nos porões da tortura¿. Sob aplausos, o ex-ministro foi chamado de ¿herói¿ por Rainha. O líder citou também como ¿injustiçados¿ o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e o ex-presidente do PT José Genoino.
¿Quem é o ACM, quem é o Antonio Carlos Magalhães Neto para tentar cassar vocês?¿, perguntou, ovacionado pela platéia.
Um líder estadual do MST, que pediu para não ser identificado, disse que as posições de Rainha não refletem necessariamente as do movimento. ¿O Rainha pode ser expulso por não acatar normas internas.¿ Rainha disse que estava cumprindo seu papel de ¿reorganizar¿ as massas e negou o racha, mas admitiu a diferença de métodos entre as lideranças. Para ele, um movimento social de tamanha importância não pode se transformar num sindicato.
¿Se o MST quer fazer a reforma agrária, precisa mobilizar gente.¿ Prefeituras que integram a Associação dos Municípios com Assentamentos do Pontal do Paranapanema (Amapp) cederam ônibus para o transporte dos sem-terra. Dirceu e o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), convidados, não compareceram alegando compromissos com a executiva do partido. O secretário de Desenvolvimento Agrário de Mirante, Itamar Cavalcante, revelou que a direção do MST tentou boicotar o encontro e pediu a Greenhalgh para não ir. Segundo ele, o racha ocorre nacionalmente e as lideranças dos Estados do Nordeste, mais ligadas a José Rainha, não se entendem com as do sul.
As relações de Rainha com o movimento que ajudou a fundar estão estremecidas desde a época em que o líder participou da administração da Cooperativa dos Assentados do Pontal (Cocamp), em Teodoro Sampaio, no final da década de 90. Acusado de tomar em nome próprio um financiamento da cooperativa no valor de R$ 270 mil, está sob investigação da CPI da Terra. Rainha alegou ter usado sua conta pessoal porque a cooperativa, na época, estava sem crédito, mas o dinheiro foi utilizado para pagar contas da Cocamp. Ele acha que a denúncia foi plantada por gente do movimento.