Título: Disputa de tucanos vira vitrine para exibir estilo
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2005, Nacional, p. A11

A menos de sete meses da data marcada para definir o nome, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra sustentam uma luta cerrada para decidir quem será o candidato do PSDB nas eleições presidenciais de 2006. Embora adversários internamente, eles se preparam para, até o ano que vem, entregarem um rol de realizações capazes de impressionar o mais exigente eleitor, subscrevendo o principal mote dos tucanos para 2006 - eficiência de gestão. As potenciais candidaturas dos três, defende um líder tucano, serão vitrines do PSDB na fase da pré-campanha e, depois, apoiarão fortemente a campanha para as eleições de 2006. A simples disputa entre eles e a conseqüente (e intensa) divulgação de suas realizações servirá, segundo esse líder, para mostrar a qualidade das gestões tucanas, exibindo um misto de respeito ao equilíbrio fiscal, com criatividade para a geração de receitas e a capacidade de produzir obras de impacto social e ampla visibilidade.

O cronograma de inaugurações de Alckmin, governador de São Paulo, começa em abril e vai até setembro de 2006, com muitas obras de grande visibilidade. A maior delas é o Projeto Pomar, com o ajardinamento das Marginais do Rio Tietê e do Rio Pinheiros , citado a boca pequena pelo governador como "o maior jardim do País". E pode vir junto um presente-surpresa para São Paulo: o recapeamento completo das marginais, 47 quilômetros de quatro pistas por onde passam 700 mil veículos (210 mil caminhões) e boa parte do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro a cada dia.

No ano que vem Alckmin também entregará o Instituto Dr. Arnaldo, complexo hospitalar anexo ao Hospital das Clínica, estruturado sobre o enorme esqueleto de 23 andares que seria o Instituto da Mulher e enfeia há 17 anos uma das mais movimentadas avenidas de São Paulo, a Dr. Arnaldo. O governador trabalha com 47 projetos estratégicos, irrigados por R$ 12,3 bilhões de investimentos.

SIMBOLISMO

Com menos dinheiro

em caixa, o prefeito José Serra optou por projetos menos magnificentes e mais simbólicos. Esta semana anunciou que vai tocar o corredor de ônibus exclusivo, o Fura-Fila, apelido inventado por Duda Mendonça para a campanha do prefeito Celso Pitta, em 1996, e nunca concluído, nem por Pitta nem por Marta Suplicy (PT).

Também marcada pelo simbolismo será a substituição, até o fim do ano, das 50 "escolas de lata" (unidades construídas em metal, gélidas no inverno, infernais no verão), que foram pivô de intensas discussões - e criticadas por ele - nas eleições municipais. Serra constrói ainda dois hospitais em regiões pobres, M¿Boi Mirim e Cidade Tiradentes, que o PT prometeu fazer, mas nem sequer iniciou. Na Prefeitura, ele está fazendo rigoroso ajuste fiscal. No começo da gestão, aprovou a adequação da previdência municipal à reforma da Previdência, o que lhe vai poupar desembolso de R$ 130 milhões ao ano. Recentemente, conseguiu aprovar uma reestruturação do ISS que vai significar mais R$ 100 milhões ao ano de receita.

LINHA VERDE

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, tem como carro-chefe de sua gestão o projeto Linha Verde, uma linha expressa combinada que integra várias avenidas na ligação do centro de Belo Horizonte com o Aeroporto de Confins. Será uma obra monumental numa cidade que não experimenta novos projetos viários há pelo menos 12 anos. Aécio também construirá seu jardim à orla do rio: será um parque para tornar mais agradável o Ribeirão Arruda, que corta Belo Horizonte.

Ele também terá sua obra simbólica: até o fim do ano promete concluir a ligação por asfalto com os 224 municípios mineiros que só eram atingidos por estrada de terra. E sexta-feira última anunciou um pacote de 40 grandes obras nos 40 maiores municípios mineiros.

Para poder investir com um mínimo de desenvoltura Aécio teve de fazer, ele mesmo, um rigoroso ajuste fiscal que lhe permitiu sair de um déficit de R$ 2,4 bilhões, quando assumiu, para o equilíbrio orçamentário ao fim do segundo ano e um superávit projetado de R$ 4 bilhões ao final do mandato. Ele tem R$ 4 bilhões para investir só no ano que vem e tem dito, com certa euforia, a amigos que Minas receberá, até 2007, investimentos estatais e privados que chegam aos R$ 80 bilhões.

Até hoje ninguém o ouviu se queixar de seu antecessor, o também ex-presidente Itamar Franco, que deixou o Estado na bancarrota e sem crédito nos organismos financeiros internacionais e nos bancos. Calado, Aécio conseguiu recuperar o crédito no Banco Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Em novembro o PSDB começa a exibir em grande escala as realizações de seus pré-candidatos, como forma de promovê-los, mas também de "vender" ao eleitorado a sua forma de governar e um aperitivo das propostas do partido para as eleições de 2006. O programa nacional de propaganda do PSDB será dividido em 80 comerciais, divididos entre os três pré-candidatos para mostrar suas realizações, prioridades e estilos .

Até novembro, o PSDB pretende montar sua nova direção nacional. A presidência, está certo, será do senador Tasso Jereissati (CE), que comandará o partido nas eleições. Falta acertar os outros cargos da Executiva. Já é consenso no partido que a escolha do candidato presidencial será feita até fim de março do ano que vem.