Título: Governo enfrenta protestos por todo o País
Autor: Tânia Monteiro e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/09/2005, Nacional, p. A4

Chuva fina, platéias modestas, cartazes irônicos, narizes de palhaço e protestos contra a corrupção marcaram ontem, nas principais cidades do País, o Dia da Independência - uma comemoração à qual faltaram muitas autoridades e que foi seguida, em quase todos os lugares, das manifestações do 11.º Grito dos Excluídos. "Honestidade ou morte!", pedia uma das faixas na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, misturando o grito histórico de 1822 com a indignação de hoje contra a corrupção. Durante duas horas, 4 mil militares e outros 3 mil integrantes de entidades civis desfilaram, sob chuva fina. A PM arrancou aplausos quando um blindado soltou fumaça verde e amarela, mas um helicóptero não teve a mesma sorte: as pétalas de rosa que atirou foram atrapalhadas pelo chuvisco. E depois dos tanques, das fardas e das marchas, grupos de jovens desfilaram pelas ruas centrais, com apitos e protestos.

Em São Paulo, sem uma única bandeira do PT, o Grito - cujo tema era "Brasil: em nossas mãos a mudança" - reuniu pelo menos 2,5 mil no Museu do Ipiranga, para cobrar mudanças na economia e mais ética na política. "A militância petista está envergonhada, mas esse é um momento de reconhecimento dos próprios erros", afirmou um dos organizadores da marcha, o veterano Waldemar Rossi, da Pastoral Operária. No ano passado, comparou ele, havia um sentimento de frustração. "Neste ano o sentimento é de revolta e de reação." Outro movimento de protesto juntou cerca de 400 pessoas que partiram do Masp, na Avenida Paulista, e foram até o Ibirapuera, com um mote que ironizava o programa Fome Zero, dizendo "Queremos tudo em pratos limpos".

Em Salvador houve mais barulho e rivalidade entre grupos. Integrantes de um trio elétrico gritavam "Xô, corrupção!" e, em seguida, "Xô, impeachment", em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao perceber que grupos da oposição vaiavam o presidente e pediam sua saída.

'FALTA ALGUMA COISA'

No Recife, onde o desfile aconteceu bem cedo, os manifestantes do Grito não agitavam bandeiras do PT, como antes, nem tinham o mesmo entusiasmo. "Tem muita gente, tem apitaço, música, mas falta alguma coisa. É como se a gente estivesse juntando os cacos para continuar lutando por um País decente e justo", comentou Gilberto Carvalho, um militante petista de 44 anos. No meio da praça, outro manifestante carregava uma mala cheia de cédulas xerocadas e chifres na cabeça. "Os chifres são porque o povo foi traído", explicava ele.

Em Belo Horizonte, cerca de 25 mil pessoas viram o desfile, na Avenida Afonso Pena, sem a presença do governador Aécio Neves (PSDB) nem do prefeito Fernando Pimentel (PT).

Em Maceió, como em tantas outras capitais, o desfile começou cedo e depois dele, já sob sol forte, a Marcha dos Excluídos juntou 2 mil trabalhadores rurais, com palavras de ordem pela reforma agrária e outras como "Fome, não, vamos acabar com o mensalão". Mais atrevidos, caras-pintadas de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, exibiram frases como "Se Lula é inocente, Beira-Mar pra presidente".

Por pouco não houve conflitos em Manaus. Assim que o desfile terminou, a Polícia Militar proibiu os 6 mil integrantes do Grito de entrarem no sambódromo e alguns manifestantes se revoltaram. A polícia só liberou a área quando autoridades já tinham ido embora.