Título: Carta da oposição pede afastamento de Severino, mas ele avisa que não sai
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2005, Nacional, p. A4

Quatro partidos de oposição pediram formalmente ontem o afastamento de Severino Cavalcanti (PP-PE) da presidência da Câmara. É o primeiro movimento da ofensiva que pode levar à abertura de processo de cassação de mandato. Severino disse primeiro que receberia a carta pessoalmente, mas mudou de idéia e recusou-se a encontrar os deputados. Por telefone, adiantou que não atenderia ao apelo. A carta foi protocolada no meio da tarde na presidência da Câmara. No texto, os partidos afirmam que a investigação sobre o mensalão ficará comprometida se Severino continuar no cargo. "A nenhum magistrado é dado comandar um procedimento no qual possui interesse direto." Também pedem que ele "se afaste da presidência da Câmara até que as denúncias trazidas a público durante o fim de semana sejam apuradas com rigor e isenção". E criticam Severino por ter defendido penas mais brandas para os deputados acusados de usarem caixa 2 nas campanhas eleitorais.

A carta leva a assinatura de representantes de PFL, PSDB, PPS e PV e teve apoio declarado, sem assinaturas, do PDT e da ala esquerda do PT. Antes de protocolá-la, os deputados se reuniram para acertar o discurso, na liderança do PSDB.

Pela unidade do grupo, o PPS adiou a entrega de pedido de cassação de Severino ao Conselho de Ética da Casa. "Já existem indícios suficientes. Mas vamos acompanhar o tempo dos outros partidos e dar amplitude à representação", disse Raul Jungmann (PPS-PE). "O PFL assinará a representação", adiantou o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA).

O grupo fará outra reunião para para analisar o pedido de cassação. E vai formar comissão paralela para acompanhar a sindicância criada por Severino na corregedoria da Câmara.

Sentados à mesa de reuniões no gabinete de Severino enquanto aguardavam o número do protocolo da carta, os deputados afirmaram que estão procurando outros partidos para que apóiem as investigações.

O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), afirmou que fez contato por telefone com o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), que ficou de dar uma resposta depois. Jungmann consultou o deputado Eduardo Campos (PSB-PE), que ficou de procurar o líder do partido, Renato Casagrande (ES).

O presidente da Câmara foi acusado de ter recebido propina do concessionário de um dos restaurantes que funcionam na Casa. O empresário Sebastião Augusto Buani, do restaurante Fiorella, teria pago propina de R$ 10 mil mensais para continuar a explorar a concessão sem licitação. A cobrança teria sido feita quando Severino ocupava a primeira secretaria da Câmara, em 2002.

Severino nega as acusações. O afastamento do presidente da Câmara não tem previsão legal e depende da vontade de Severino e de um acordo político entre os partidos na Casa.