Título: Contra todos os fatos, Severino ensaia resistência
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2005, Nacional, p. A7

O futuro político do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), se estreita. A pressão pela renúncia aumentou ontem, depois que o empresário Sebastião Buani apresentou o cheque de R$ 7,5 mil endossado por Gabriela Kênia, secretária do deputado. Severino só tomou a decisão de não pedir afastamento do cargo: agora, ou briga pelo mandato ou renuncia. No início da tarde, líderes da base aliada foram à casa de Severino, na Península do Ministro - de onde o deputado não saiu ontem -, pedir que ele renunciasse ao mandato. A primeira reunião não teve sucesso. Mesmo com surgimento do cheque e o apelo dos líderes, Severino não se convenceu.

Ele disse aos deputados que estava disposto a brigar pelo mandato, mas ouviu de todos o conselho para renunciar, pelo menos à presidência. O aparecimento do cheque, alegaram, deixou a situação insustentável.

Severino afirmou que tomaria uma decisão final em 48 ou 72 horas - prazo limite para que a representação contra ele seja enviada ao Conselho de Ética. A partir daí, a renúncia não evita mais a perda de direitos políticos, caso seja cassado.

Uma nova reunião foi marcada para depois da sessão em que se decidiria a cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Os governistas que se reuniram com Severino - o líder do governo na Casa, Arlindo Schinaglia, José Janene (PP-PR), Renildo Calheiros (PC do B-AL), Aldo Rebelo (PC do B-SP), Fernando Ferro (PT-PE), Sandro Mabel (PL-GO) e João Caldas (PL-AL) - voltaram à Câmara para sentir o clima e falar com a oposição.

ABATIMENTO

"Ele está disposto a enfrentar o processo, mas há ponderações de que o momento é muito crítico", destacou Caldas, que é 4. secretário da Mesa. "Mas o aconselhamento geral é de renúncia." Dizendo que Severino estava muito abatido e triste, ele chegou a duvidar que Severino tenha condições de saúde para realmente enfrentar um processo de cassação.

Chinaglia relatou que Severino analisava todas as opções e comentou que estaria pronto para fazer o que fosse melhor para o País. "Mas ele não aceita a hipótese de não trabalhar para esclarecer a verdade."

O líder do governo esquivou-se como pôde de esclarecer qual é a posição no governo, mas admitiu que a situação de Severino piorou e admitiu que talvez a renúncia seja necessária. "Se a presença dele na Câmara for elemento permanente de instabilidade, se o que ele tiver a apresentar não for suficiente, é evidente que essa possibilidade vai ser colocada."